Catar prende jornalistas que faziam reportagem sobre obras da Copa do Mundo

Noruegueses trabalhavam em uma matéria que abordava a situação de operários migrantes. Eles ficaram detidos por 30 horas e tiveram material apagado

Dois jornalistas da televisão estatal norueguesa foram presos no domingo (21) por forças de segurança do Catar enquanto faziam uma reportagem sobre o trabalho de migrantes em obras para a Copa do Mundo de futebol de 2022. Eles foram mantidos sob custódia por mais de 30 horas e tiveram apagadas todas as imagens registradas na câmera da emissora. As informações são da agência Associated Press (AP).

O repórter Halvor Ekeland e o cinegrafista Lokman Ghorbani, da NRK, principal canal de televisão do país, foram acusados pelas autoridades cataris de “invasão de propriedade privada e filmagem sem autorização”. Os jornalistas alegam que tinham aval das fontes, com quem estavam apalavrados. Eles foram detidos no hotel em que estavam hospedados após trabalharem em uma reportagem que abordava a situação de operários migrantes. Ambos foram soltos na terça-feira (23) e retornaram ao país natal.

O incidente gerou um mal-estar diplomático entre Noruega e Catar. Em Oslo, o embaixador catari no país europeu foi convocado pelo Ministério das Relações Exteriores para levar esclarecimentos sobre o assunto, informou a agência de notícias norueguesa NTB.

Acidentes e mortes de operários no Catar tem sido registrados desde que o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de Futebol (Unsplash/Josue Isai Ramos Figuer)

“Inaceitáveis”, declarou o primeiro-ministro Jonas Gahr Stoere sobre as prisões. No Twitter, a autoridade falou sobre a liberdade do ofício jornalístico. “Uma imprensa livre é crucial para o funcionamento de uma democracia”, escreveu Stoere. “Isso também mostra a importância da entrega deste ano do Prêmio Nobel da Paz (para jornalistas). Estou muito feliz que Halvor Ekeland e Lokman Ghorbani foram libertados”.

A pouco menos de ano do começo da Copa, marcada para 21 de novembro de 2022, o episódio no país tido como o mais rico do mundo, em relação ao PIB per capita, descortina as ações de um governo que acena para o autoritarismo. Outros casos semelhantes já ocorreram por lá bem antes do Mundial.

Em comunicado oficial, o governo do Catar justificou que os dois profissionais de imprensa foram presos após a denúncia de um dono de propriedade privada não identificada na Área Industrial do país, que abriga campos de trabalho forçado. Segundo as autoridades, Ekeland havia pedido uma licença de filmagem, mas teria sido constatado que ela não havia sido concedida antes de o jornalista ir ao local.

O repórter esportivo justificou que ele e o colega “não tinham permissão por escrito” para filmar em propriedade privada, mas “os que estavam lá concordaram”.

“Eles estavam preocupados porque não tínhamos permissão para filmar. Mas nós fomos convidados pela organização da Copa do Mundo para filmar lá e havia um monte de outras organizações de mídia no local também”, argumentou Ekeland.

Mortes nas arquibancadas

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um relatório sobre acidentes e mortes de operários no Catar, uma apuração que começou desde que o país foi escolhido para sediar a Copa do Mundo ano que vem.

Na análise, a OIT informa que foram 50 mortes em 2020 e mais de 500 feridos graves. A maioria dos trabalhadores são migrantes de BangladeshÍndia e Nepal. A maior parte desses casos ocorreu na indústria da construção.

O relatório mostra que o número de ferimentos leves e moderados é de 37, 6 mil. Os casos mais frequentes e sérios são quedas de lugares altos a acidentes de trânsito seguidos de impactos por objetos que caem de locais de obra.

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