Explosões matam ao menos três pessoas na Síria, perto da fronteira com a Turquia

Conflitos no noroeste da Síria opõem os rebeldes apoiados pela Turquia a uma milícia curda considerada terrorista por Ancara

Três explosões em diferentes locas do noroeste da Síria mataram ao menos três pessoas na quinta-feira (13), perto da fronteira com a Turquia. As autoridades acreditam que duas das explosões foram provocadas por terroristas suicidas. As informações são da rede Voice of America (VOA).

No primeiro incidente, um indivíduo que participou do resgate afirmou que a vítima fatal é um civil morto na explosão de um IED (dispositivo explosivo improvisado, da sigla em inglês) posicionado em um veículo. Ocorreu na cidade de Azaz, perto do principal ponto de travessia de fronteira em direção à Turquia.

Poucas horas depois do primeiro ataque, outra explosão ocorreu num mercado da cidade de al-Bab. Apenas o terrorista suicida morreu, e três pessoas se feriram. A terceira explosão, que matou duas pessoas, foi em Afrin, uma cidade de maioria curda reconquistada em 2018 pela coalização entre o exército da Turquia e rebeldes árabes.

Embora não haja confirmação oficial sobre a autoria dos ataques, a região tem forte atuação da YPG (Unidade de Proteção do Povo), considerada pelos turcos como a facção síria do PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos), que luta pela autonomia curda na Turquia há três décadas e tem bases também no Iraque.

Nos últimos anos, Ancara acusa o inimigo de realizar ataques a bomba para tornar ingovernável uma área habitada por mais de 3 milhões de sírios que fugiram de áreas controladas pelo governo central durante a guerra civil. O PKK é listado pela Turquia como organização terrorista.

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Cartucho de munição usada em um ataque na cidade de Homs, na Síria (Foto: UN Photo)

Por que isso importa?

A guerra civil na Síria teve início em 2011, após protestos populares por democracia que visavam a derrubar o presidente de Bashar Al-Assad. Desde então, o líder sírio conta com o suporte de Rússia e Irã, que o tratam como governante legítimo do país. Já a oposição tem na Turquia seu maior aliado, embora diversos governos ocidentais tenham apoiado os oposicionistas em momentos diversos do conflito.

Desde que a guerra teve início, há mais de dez anos, a oposição local e os líderes ocidentais exigem a saída de Assad, a quem acusam de crimes contra a humanidade, além de inúmeras irregularidades administrativas. Apoiadores de Assad, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.

Mais de 590 mil pessoas morreram durante a guerra, que varreu a nação e deslocou mais da metade da população, que era de 23 milhões de pessoas. Cerca de 13 milhões são dependentes de ajuda humanitária no país atualmente, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas).

Inicialmente, EI aproveitou o conflito para crescer no país, o que não durou muito tempo. Nos últimos anos, o grupo extremista se enfraqueceu financeira e militarmente, não apenas na Síria como em todo o mundo.

As Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, têm a maior parcela de responsabilidade pela derrocada do EI na Síria, tendo anunciado em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país. O mesmo fez o exército iraquiano, que anunciou ter derrotado a organização no Iraque em 2014, com a retomada de todos os territórios que ela dominava. O grupo, porém, ainda empreende ataques isolados no país, tentando ganhar território em meio ao conflito que permanece.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho deste ano, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, justamente Iraque e Síria, onde atualmente mantêm células adormecidas que lançam ataques esporádicos.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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