Um funcionário de uma empresa japonesa foi formalmente denunciado na China após passar aproximadamente 17 meses detido por suspeita de espionagem, conforme divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quinta-feira (22). As informações são da Reuters.
O homem, de 50 anos, um executivo da filial chinesa da farmacêutica japonesa Astellas Pharma, foi preso em 2023. Residente na China há mais de 20 anos, ele já ocupou o cargo de vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Japonesa no país.
A porta-voz do ministério, Mao Ning, informou que o indivíduo foi acusado recentemente “em conformidade com a lei”. Ele acrescentou que a China, como um país com Estado de direito, investiga e trata infrações e atividades ilegais conforme a lei.

A acusação intensifica as preocupações de segurança na comunidade empresarial japonesa, levando as empresas a demandarem mais clareza e transparência nas iniciativas de contraespionagem de Beijing. A prisão do funcionário da Astellas Pharma na China no ano passado impactou negativamente os negócios, de acordo com algumas autoridades japonesas, resultando em uma diminuição no investimento estrangeiro e na saída de expatriados japoneses do país.
A Astellas Pharma se manifestou na quarta-feira (21), informando que um de seus funcionários, detido na China desde março de 2023 por suspeita de espionagem, foi indiciado pelas autoridades chinesas. O nome do indivíduo não foi revelado.
Rigor
Desde 2012, o presidente chinês Xi Jinping tem priorizado a segurança nacional, especialmente em resposta às crescentes tensões com os EUA. A repressão à espionagem tem sido central nessa estratégia, com a criação de uma comissão de segurança nacional e a introdução de uma lei de contraespionagem em 2014.
Em 2023, a lei ficou mais rigorosa, ampliando o escopo das informações cobertas para incluir qualquer aspecto relacionado à “segurança e interesses nacionais”.
Sob as novas disposições, as autoridades podem agora inspecionar bagagens e dispositivos eletrônicos baseando-se apenas na suspeita de atividades de espionagem, levantando preocupações sobre verificações mais frequentes para estrangeiros ao entrarem no país.
Essas verificações podem ser realizadas sem a necessidade de um mandado judicial. Se os policiais não conseguirem examinar os dispositivos no local, têm permissão para exigir que os proprietários os levem para locais designados,
A Embaixada do Japão em Beijing relatou que o funcionário foi formalmente denunciado em meados de agosto, no entanto, as acusações exatas contra ele e o cronograma das audiências não foram divulgados. O governo japonês tem pedido insistentemente a sua libertação imediata, mas reconhece que a detenção pode se prolongar. A embaixada japonesa reafirmou que continuará pressionando as autoridades chinesas para que ele seja liberado.
Estrangeiros na mira
Desde a implementação da Lei de Espionagem de 2014, as autoridades chinesas detiveram pelo menos 17 cidadãos japoneses, dos quais cinco permanecem sob custódia.
Em meio a um cenário de rígido controle do governo Xi Jinping, ao mesmo tempo em que busca atrair investidores de volta à China após a pandemia de Covid-19 e sua rígida política sanitária, empresas estrangeiras têm sido fortemente pressionadas no país.
Em março, o Mintz Group, uma empresa de investigações corporativas que coleta informações antes das transações, relatou que seu escritório em Beijing passou por uma situação pior ao ser invadida por policiais. Cinco funcionários foram levados sob custódia na ocasião.
Já a fabricante de chips de memória Micron Inc., com sede nos EUA, foi notificada pelo governo de que passaria por uma “revisão de segurança”.
Nesse contexto de pente-fino, grupos empresariais disseram que empresas globais estão repensando seus planos de investimento no país e têm redirecionado os negócios para outras economias no Sudeste Asiático e para a Índia, entre outro países.