O governo da Somália autorizou, na quinta-feira (17), a entrada de tropas do Egito no país, com base em um acordo de defesa firmado entre os dois países em agosto. A media prepara terreno para a retirada dos soldados da Etiópia e aumenta o distanciamento entre somalis e etíopes, cuja tensão crescente gera o temor de um conflito regional. As informações são do site Garowe.
Em um primeiro momento, as tropas egípcias vão auxiliar as Forças Armadas da Somália no combate ao terrorismo, tendo como principal meta enfrentar o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. Há, entretanto, um projeto mais amplo que afetaria a Etiópia.

O Egito se propôs a usar suas tropas para substituir os soldados etíopes que atuam na Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS). Mogadíscio contesta a presença das forças da Etiópia e concorda que sejam substituídos pelos egípcios.
A Etiópia, por sua vez, não recebeu bem a iniciativa e até ampliou o envio de tropas para o território somali. Mais de sete mil soldados teriam chegado à Somália para fortalecer o papel de Adis Abeba na ATMIS.
Somália e Etiópia travam uma disputa ligada à luta por independência da Somalilândia, que foi colônia britânica até 1960, quando se tornou independente. Logo na sequência, entretanto, optou por se unir voluntariamente à Somália e assim permaneceu até declarar novamente sua soberania em 1991.
A decisão do governo da Etiópia de reconhecer a independência da Somalilândia, em janeiro deste ano, enfureceu Mogadíscio a ponto de aproximar os dois países de um conflito armado.
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA) chegou a se reunir emergencialmente à época e instou as duas nações a “exercerem contenção, desescalarem e se envolverem em um diálogo significativo para encontrar uma resolução pacífica da questão”.
Em troca do reconhecimento, a Somalilândia concedeu à Etiópia, um país sem acesso ao mar, o arrendamento por 50 anos de uma faixa de 20 quilômetros de costa, onde Adis Abeba pretende erguer uma base militar e um porto comercial.
O Egito se insere na disputa porque também tem problemas com a Etiópia, referentes a uma barragem que o governo etíope construiu no rio Nilo. Os egípcios dependem do rio para o fornecimento de água potável a um população em rápido crescimento, de cerca de cem milhões de habitantes. Já os etíopes alegam que a barragem ajudará a tirar muitos de seus 110 milhões de cidadãos da pobreza.
Na semana passada, a Eritreia se uniu a Egito e Somália em uma aliança tríplice para confrontar a Etiópia. O pacto foi firmado durante uma cúpula na capital eritreia Asmara, abrindo caminho para uma eventual negociação de paz ou para aprofundar ainda mais as rivalidades regionais.
Embora não tenha problemas com a Etiópia como seus aliados, a Eritreia resolveu quebrar sua habitual neutralidade com o objetivo de atuar na mediação da crise regional, ao mesmo tempo em que ajuda a equilibrar a balança de forças que pendia para o lado etíope.