De surpresa, funcionários paralisam o Louvre em protesto contra o turismo excessivo

Manifestação surpresa escancara crise de infraestrutura no museu mais visitado do mundo, na capital francesa Paris

Um protesto inesperado dos próprios funcionários fechou as portas do Louvre nesta segunda-feira (16), em um raro episódio de paralisação que escancarou os efeitos da superlotação e da falta de investimento no museu mais famoso do mundo. A paralisação ocorreu no auge da temporada turística em Paris, na França, e deixou milhares de visitantes presos em longas filas sob a pirâmide de vidro, sem acesso às galerias. As informações são da agência Associated Press (AP).

“Está um lamento da Mona Lisa aqui fora”, disse Kevin Ward, 62 anos, turista de Milwaukee, nos Estados Unidos. “Milhares de pessoas esperando, nenhuma explicação, nenhuma comunicação. Acho que até ela precisa de um dia de folga.”

A greve começou durante uma reunião interna de rotina, mas logo ganhou força. Agentes de segurança, bilheteiros e atendentes de galeria decidiram cruzar os braços diante do que chamam de condições “inaceitáveis” de trabalho. Eles denunciam a combinação de turismo em massa, falta crônica de pessoal e infraestrutura deteriorada. O Louvre, que já fechou em raríssimas ocasiões — como durante guerras, ameaça terrorista ou a pandemia —, voltou a parar por um motivo que parte de dentro: seus próprios trabalhadores.

Soldado supervisiona área turística do Museu do Louvre, em Paris, França, dezembro de 2020 (Foto: FMI/Cyril Marcilhacy)

A paralisação acontece logo após protestos contra o turismo excessivo tomarem cidades como Veneza, Lisboa, Barcelona e Palma de Mallorca. Em Barcelona, ativistas chegaram a borrifar água em turistas com pistolas de brinquedo para simbolizar o “resfriamento” do turismo desenfreado. No Louvre, a pressão é diária. Cerca de 20 mil pessoas se espreitam diariamente na sala que abriga a Mona Lisa, muitas vezes apenas para tirar uma selfie, ignorando obras de mestres como Ticiano e Veronese.

O presidente Emmanuel Macron apresentou em janeiro o plano “Nova Renascença do Louvre”, prometendo resolver os problemas com uma reforma de até 800 milhões de euros. Entre as promessas estão a criação de uma nova entrada próxima ao rio Sena e uma sala exclusiva para a Mona Lisa, com entrada controlada por horário. “As condições de exibição, explicação e apresentação estarão à altura do que a Mona Lisa merece”, afirmou Macron.

Uma nota interna da presidente do museu, Laurence des Cars, alerta que partes do prédio não são mais à prova d’água, as variações de temperatura ameaçam as obras e os serviços ao público estão abaixo dos padrões internacionais. Ela descreveu a situação como “uma provação física”.

O museu permanecerá fechado na terça-feira (17). Alguns funcionários estudam reabrir parcialmente na quarta-feira (18), com um “circuito das obras-primas”, incluindo a Mona Lisa e a Vênus de Milo, disponível por algumas horas. Ingressos datados para esta segunda poderão ser reutilizados, segundo os organizadores. O Louvre recebeu 8,7 milhões de visitantes em 2023 — mais que o dobro do que sua estrutura comporta.

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