Grupo ligado ao EI amplia sequestro de crianças em Cabo Delgado, diz Human Rights Watch

Organizações relatam que os menores são usados para trabalho forçado, transporte de cargas e participação em combates

Um grupo armado ligado ao Estado Islâmico (EI) intensificou os sequestros de crianças na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Segundo relatório divulgado pela ONG Human Rights Watch (HRW), a maioria das vítimas tem sido forçada a transportar bens saqueados, trabalhar, casar ou participar diretamente dos combates.

Dados de organizações da sociedade civil e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) indicam que os casos de sequestros aumentaram nos últimos meses. Embora o grupo armado, conhecido localmente como Al-Shabab, tenha libertado algumas crianças sequestradas no início deste ano, várias continuam desaparecidas. As que retornam enfrentam dificuldades de reintegração nas comunidades de origem.

Em maio e junho de 2025, a HRW entrevistou nove pessoas em Moçambique, entre elas moradores de Cabo Delgado, jornalistas, ativistas e um funcionário das Nações Unidas. “Nos últimos dias, 120 ou mais crianças foram sequestradas”, afirmou Abudo Gafuro, diretor executivo da Kwendeleya, organização que acompanha ataques e oferece apoio a vítimas de violência.

 Cabo Delgado, província de Moçambique, é reduto de militantes do Estado Islâmico (Foto: WikiCommons)

Casos específicos de sequestros recentes incluem o ataque de 23 de janeiro de 2025 ao vilarejo de Mumu, no distrito de Mocímboa da Praia, onde quatro meninas e três meninos foram levados. Durante a retirada do grupo armado, duas crianças foram liberadas, mas cinco continuam desaparecidas. Em março, outras seis crianças foram sequestradas na localidade de Chibau para transportar bens saqueados, com quatro delas libertadas no dia seguinte. No mês de maio, oito crianças foram levadas em duas ações distintas nas vilas de Ntotwe e Magaia.

“O Al-Shabab, quando entra ou ataca determinadas áreas, tende a sequestrar crianças”, declarou Augusta Iaquite, coordenadora da Associação de Mulheres na Carreira Jurídica em Cabo Delgado. Segundo ela, os menores são levados para treinamento militar e posterior participação nos combates.

A ONG também registrou que a falta de estrutura para atender as vítimas tem dificultado o processo de reintegração. “O país precisa de uma estratégia clara sobre o que fazer quando uma criança, especialmente uma que foi resgatada, retorna”, afirmou Benilde Nhalivilo, diretora-executiva do Fórum da Sociedade Civil pelos Direitos da Criança.

A Constituição de Moçambique e a Lei de Promoção e Proteção dos Direitos da Criança, de 2008, estabelecem o dever do Estado de proteger menores contra violência, exploração e abuso. O país também é signatário de tratados internacionais como a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança e a Carta Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança, que proíbem o sequestro e o recrutamento de menores por grupos armados.

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