Três anos após o início do conflito no Sudão, as Forças de Apoio Rápido (RSF) e as Forças Armadas do Sudão (SAF) continuam buscando uma solução militar, violando o direito internacional e os direitos dos civis no processo.
Na sexta-feira (27), o Conselho de Segurança da ONU ouviu informações preocupantes de Martha Ama Akyaa Pobee, secretária-geral adjunta da ONU para a África, e Shayna Lewis, especialista em Sudão e conselheira sênior para Prevenção e Fim de Atrocidades em Massa (PAEMA), uma organização sediada nos EUA.
Pobee enfatizou que as linhas de frente continuam a mudar à medida que RSF e SAF prosseguem com seus objetivos militares, alertando que “as partes em guerra parecem implacáveis em sua determinação de perseguir objetivos militares”.
Ela destacou o uso crescente de armamento avançado, incluindo drones de longo alcance, que expandiram a violência para áreas antes estáveis.
Pobee alertou ainda sobre a possibilidade de o conflito se espalhar ainda mais pela região, citando relatos recentes de confrontos violentos na área da tríplice fronteira entre Sudão, Líbia e Egito, envolvendo SAF, RSF e forças afiliadas ao Exército Nacional Líbio.
Violações dos direitos humanos
Pobee também fez referência a relatórios de direitos humanos da ONU que documentam uma triplicação de assassinatos arbitrários de civis entre fevereiro e abril deste ano.

“A impunidade arraigada está alimentando essas e outras graves violações e abusos dos direitos humanos. Todas as partes envolvidas no conflito devem ser responsabilizadas”, enfatizou.
O briefing de Lewis se concentrou na piora da situação humanitária, destacando que mais de 15 milhões de crianças agora precisam de assistência devido aos ataques contínuos contra civis.
Ao retornar de uma visita recente ao Sudão, ela compartilhou relatos de crianças gravemente feridas em hospitais e enfatizou que até 80% das unidades de saúde em áreas de conflito não estão mais funcionando.
Ela também citou exemplos de ataques indiscriminados a hospitais tanto pelas SAF quanto pelas RSF, incluindo um suposto ataque de drone das SAF em 21 de junho que atingiu um hospital em Kordofan Ocidental, matando mais de 40 pessoas e destruindo equipamentos essenciais para salvar vidas.
Ambas alertaram sobre o uso generalizado de violência sexual e de gênero contra mulheres e meninas pelas partes em conflito em todo o Sudão.
Governo da Esperança
Apesar da violência e dos abusos dos direitos humanos em curso, Pobee ressaltou a importância do novo “Governo da Esperança”.
Em 31 de maio, um novo primeiro-ministro interino foi empossado, anunciando planos de reforma e nomeando imediatamente um gabinete de tecnocratas profissionais.
Ela também reconheceu os esforços do enviado pessoal do secretário-geral da ONU para o Sudão, Ramtane Lamamra, que tem se envolvido com o primeiro-ministro, grupos civis e as partes em conflito.
Por meio dessa comunicação crucial, o enviado pessoal está ajudando essas partes interessadas a trabalhar em direção a uma resolução política inclusiva.
“Peço a este Conselho, mais uma vez, que se una para dar total apoio aos esforços do enviado pessoal Lamamra e que use sua influência com as partes e seus apoiadores externos para pressionar por um compromisso genuíno com o diálogo e a redução da tensão”, disse Pobee.