A Indonésia reconheceu oficialmente o ex-ditador Suharto como herói nacional, decisão que provocou indignação entre ativistas de direitos humanos e setores da sociedade civil. O título foi concedido durante uma cerimônia no Palácio Presidencial em Jacarta, nesta segunda-feira (10), e entregue pelo presidente Prabowo Subianto, ex-genro do líder autoritário. As informações são da NBC News.
Suharto governou o país com mão de ferro por mais de três décadas, entre 1967 e 1998, após depor o primeiro presidente da Indonésia, Sukarno. Seu regime foi marcado por crescimento econômico e estabilidade, mas também por repressão violenta, corrupção e nepotismo. Estima-se que cerca de 500 mil pessoas tenham sido mortas durante a campanha anticomunista de 1965, um dos piores massacres do século XX.

A homenagem incluiu Suharto entre dez personalidades reconhecidas por “serviços excepcionais ao desenvolvimento da nação”. O Ministério da Cultura afirmou que o ex-presidente teve papel fundamental na consolidação da independência e na recuperação do território da Papua Ocidental, então sob domínio holandês.
Mas para organizações de direitos humanos, a decisão representa uma tentativa de reabilitar a imagem de um dos regimes mais autoritários da Ásia. “É uma distorção histórica grave e um insulto às vítimas do regime”, disseram ativistas em protesto realizado na capital.
Além da repressão política, o governo de Suharto também foi acusado de corrupção em larga escala. Estimativas indicam que ele e sua família desviaram até 45 bilhões de dólares em fundos públicos. As tentativas de levá-lo à Justiça fracassaram, e ele morreu em 2008, aos 86 anos, sem nunca ter sido condenado.
Ainda assim, estudiosos reconhecem que o período de Suharto coincidiu com o rápido crescimento econômico da Indonésia. “Entre as décadas de 1970 e 1980, cerca de 50 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema”, afirmou David Henley, professor da Universidade de Leiden. “Esse é o principal argumento usado por quem o defende como herói.”
O atual presidente, Prabowo Subianto, ex-marido de uma das filhas de Suharto, também é alvo de acusações de violações de direitos humanos em Timor-Leste e Papua, mas nunca foi indiciado. Proibido de entrar nos Estados Unidos até 2020, ele foi eleito presidente no ano passado com o apoio do partido Golkar, fundado pelo antigo regime.
Mesmo 25 anos após sua queda, o legado de Suharto continua a dividir o país. Para alguns, ele simboliza prosperidade e estabilidade; para outros, representa décadas de censura, medo e violência de Estado.