Os protestos em Bangladesh se intensificaram pelo segundo dia consecutivo após a morte do líder estudantil Sharif Osman Hadi, figura central do movimento pró-democracia que ganhou força no país em 2024. Milhares de pessoas foram às ruas de Dhaka e de outras grandes cidades exigindo justiça e responsabilização pelos responsáveis pelo assassinato do ativista, baleado na semana passada e que morreu em um hospital de Singapura. As informações são da Al Jazeera.
Hadi, de 32 anos, liderava o grupo estudantil Inqilab Moncho e era conhecido por críticas duras à influência da Índia na política de Bangladesh. O ataque ocorreu quando ele deixava uma mesquita na capital. A confirmação de sua morte provocou uma rápida escalada de manifestações, que começaram de forma pacífica e evoluíram para episódios de vandalismo e confrontos.

Na noite de quinta-feira (18), prédios públicos e privados foram incendiados em Dhaka, incluindo as sedes dos jornais Prothom Alo e Daily Star. Manifestantes acusam os veículos de manter posições favoráveis à Índia, país onde a ex-primeira-ministra Sheikh Hasina vive exilada desde a queda de seu governo, após os levantes estudantis do ano passado.
Funcionários do Daily Star relataram momentos de pânico durante o incêndio, sendo resgatados por equipes de emergência. Organizações de defesa da liberdade de imprensa condenaram os ataques e alertaram para os riscos à segurança de jornalistas no país.
O governo interino de Bangladesh, liderado por Muhammad Yunus, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, condenou os atos de violência e pediu que a população evite ações promovidas por grupos extremistas. Em nota oficial, o Executivo afirmou que o país atravessa um momento decisivo de transição democrática e que episódios de vandalismo não podem comprometer o processo.
Além da capital, protestos foram registrados em cidades como Gazipur, Sylhet e Chattogram. Manifestantes carregaram bandeiras nacionais, entoaram palavras de ordem e exigiram a prisão imediata dos envolvidos no assassinato de Hadi. Parte dos participantes acusa os suspeitos de terem fugido para a Índia, informação que não foi comentada oficialmente por Nova Déli.
Na quarta-feira, antes mesmo da confirmação da morte do líder estudantil, manifestantes marcharam em direção à Alta Comissão da Índia em Dhaka, evidenciando o desgaste das relações diplomáticas entre os dois países.
A polícia divulgou imagens de suspeitos e anunciou recompensa por informações que levem à prisão dos autores do crime. O sábado foi declarado dia oficial de luto, com orações especiais realizadas em mesquitas de todo o país.
Hadi planejava se candidatar ao Parlamento nas eleições nacionais previstas para fevereiro de 2026, o que reforça o impacto político de sua morte em um cenário já marcado por instabilidade e polarização.