A morte de Peng Peiyun, ex-chefe da Comissão de Planejamento Familiar da China, provocou uma onda de críticas nas redes sociais chinesas e reacendeu o debate sobre os impactos da política do filho único. Longe de homenagens, o falecimento da autoridade conhecida como “czar” do controle populacional foi marcado por manifestações de indignação no Weibo, uma espécie de X do país. As informações são da CNBC.
Peng comandou a comissão entre 1988 e 1998, período em que a política do filho único foi aplicada de forma rigorosa em grande parte do território chinês. A mídia estatal destacou sua atuação, classificando-a como uma “líder excepcional” em temas ligados a mulheres e crianças. Nas redes sociais, porém, o tom foi de cobrança e revolta.

Usuários relembraram abortos forçados, esterilizações compulsórias e o desaparecimento de milhões de crianças que nunca chegaram a nascer. Comentários associaram diretamente a política demográfica à atual crise populacional do país, marcada por queda no número de habitantes e envelhecimento acelerado da sociedade.
Implementada oficialmente em 1980, a política do filho único teve como objetivo conter o crescimento populacional, que era visto como uma ameaça ao desenvolvimento econômico. Ao longo de 35 anos, a medida limitou a maioria dos casais urbanos a ter apenas um filho, com fiscalização mais rígida em algumas regiões e períodos.
Com o passar do tempo, porém, os efeitos colaterais se tornaram evidentes. A China registrou, pelo terceiro ano consecutivo, redução no número de habitantes. Em 2023, o país foi ultrapassado pela Índia como a nação mais populosa do mundo e, no ano passado, sua população caiu para cerca de 1,39 bilhão.
Especialistas alertam que a tendência de queda deve se intensificar nos próximos anos, ampliando a escassez de mão de obra e pressionando sistemas de previdência e saúde. O próprio governo chinês reconheceu a gravidade do cenário e, nos últimos anos, passou a incentivar o aumento da natalidade.
Na década de 2010, a própria Peng Peiyun defendeu publicamente a flexibilização da política. Em 2015, o governo encerrou oficialmente o limite de um filho por casal. Desde então, Pequim passou a adotar medidas como subsídios para creches, ampliação da licença-maternidade e incentivos fiscais para famílias com mais filhos.
Mesmo assim, a resposta da população tem sido tímida. Custos elevados, mudanças culturais e insegurança econômica continuam afastando muitos jovens chineses da ideia de formar famílias maiores.