Burkina Faso bloqueia veículos de mídia que reportaram massacre de civis por militares

ONG diz que membros das Forças Armadas mataram 223 pessoas em duas aldeias, punindo-as por suposta ajuda a jihadistas

A junta militar que governa Burkina Faso, sob o comando do capitão Ibrahim Traoré, suspendeu a atuação no país africano de uma série de veículos de imprensa ocidentais que noticiaram na semana passada um massacre de civis conduzido pelas Forças Armadas. As informações são da rede BBC, uma das atingidas pela censura.

Segundo relato da ONG Human Rights Watch (HRW), militares burquinenses executaram sumariamente pelo menos 223 civis, incluindo pelo menos 56 crianças, em duas aldeias no dia 25 de fevereiro de 2024, mas o caso foi somente revelado um mês depois.

A partir de então, diversos veículos de imprensa que repercutiram a denúncia da HRW foram bloqueados em Burkina Faso, além do site da própria ONG que revelou o caso. As vítimas mais recentes da repressão são a BBC, rede pública do Reino Unido, e a Voice of America (VOA), financiada pelo governo dos EUA.

Capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar que governa Burkina Faso (Foto: twitter.com/capit_ibrahim)

A medida autoritária levou os governos britânico e norte-americano a publicarem uma declaração conjunta, na qual se dizem “gravemente preocupados com os relatos de massacres de civis pelas forças militares burquinenses no final de fevereiro” e manifestam oposição “veemente às suspensões dos meios de comunicação.”

No texto, Londres e Washington destacam ainda que as suspensões surgem conforme se aproxima “o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio, que nos lembra que as sociedades são fortalecidas, e não ameaçadas, por públicos bem informados e expressões de opinião.”

Outros meios de comunicação foram afetados pela medida, entre elas a emissora francesa TV5Monde, que teve suas transmissões suspensas por duas semanas e o acesso a seu seu site bloqueado. As páginas de internet da rede alemã Deutsche Welle (DW), dos jornais franceses Le Monde e Ouest-France, do jornal britânico The Guardian e das agências africanas APA e Ecofin também saíram do ar.

“O bloqueio do dw.com e de outros meios de comunicação em Burkina Faso significa que as pessoas estão sendo privadas do importante direito à informação independente”, disse a diretora-gerente de programação da DW, Nadja Scholz. “A nossa cobertura sobre Burkina Faso fornece continuamente fatos e perspectivas equilibradas. Instamos as autoridades reguladoras a desbloquearem o website o mais rapidamente possível.”

O massacre

A denúncia da HRW afirma que soldados burquinenses mataram 44 pessoas, incluindo 20 crianças, na aldeia de Nondin, além de 179 pessoas, incluindo 36 crianças, na aldeia vizinha de Soro, localizadas no distrito de Thiou, na província de Yatenga, ao norte do país. Os militares teriam punido a população por seu suposto apoio a grupos extremistas.

A investigação conduzida pela ONG, realizada entre 28 de fevereiro e 31 de março, contou com entrevistas por telefone com 23 pessoas, incluindo 14 testemunhas dos assassinatos, três ativistas da sociedade civil locais e três membros de organizações internacionais. Vídeos e fotografias compartilhados por sobreviventes dos assassinatos e sobreviventes feridos também foram analisados.

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