As autoridades de saúde da África informaram que os casos do vírus da varíola M, anteriormente chamada de varíola dos macacos, subiram 160% até o momento neste ano, destacando que o risco de propagação é elevado devido à escassez de tratamentos ou vacinas eficazes no continente. As informações são da agência Associated Press.
Segundo um relatório divulgado na quarta-feira (31) pelos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a doença foi identificada em 10 países africanos neste ano, com a RD Congo concentrando mais de 96% dos casos e mortes.
Autoridades relataram que quase 70% dos casos na RD Congo ocorrem em crianças com menos de 15 anos, que também representam 85% das mortes.
Até o momento, houve cerca de 14.250 casos neste ano, um número quase igual ao total do ano passado. Comparado aos primeiros sete meses de 2023, os CDCs indicaram que os casos aumentaram 160%, enquanto as mortes subiram 19%, totalizando 456.
Burundi e Ruanda relataram seus primeiros casos do vírus nesta semana. Novos surtos também foram reportados nesta semana no Quênia e na República Centro-Africana, com casos se espalhando para a capital densamente povoada, Bangui.
Nairóbi anunciou o surto na quarta-feira, após a detecção de um caso em um passageiro que viajava de Uganda para Ruanda, cruzando a fronteira no sul do Quênia. Na República Centro-Africana, onde a infecção é mais prevalente em áreas remotas, as autoridades solicitaram apoio público para ajudar a conter a propagação da doença.
O CDC da África informou que a taxa de mortalidade por varíola M no continente é de cerca de 3% este ano, muito superior à taxa global de menos de 1% registrada durante a emergência de 2022.
No início deste ano, cientistas descobriram uma nova variante letal da doença, com uma taxa de mortalidade de até 10%, em uma cidade mineradora no Congo. Eles temem que essa cepa possa se espalhar facilmente entre pessoas, já que a varíola M é transmitido por contato próximo, incluindo relações sexuais.
Ao contrário de surtos anteriores, onde as lesões apareciam principalmente no peito, mãos e pés, a nova variante causa sintomas mais leves e lesões principalmente nos órgãos genitais, dificultando a detecção.
Em maio, a OMS (Organização Mundial da Saúde) revelou que não houve financiamento para conter a varíola M, apesar do surto na África. Agora, a Coalizão para Inovações em Preparação para Epidemias começará um estudo no próximo mês para testar se vacinar pessoas após a exposição pode prevenir casos graves e mortes.
Metade das vítimas são crianças
Os casos de varíola M têm crescido na República Democrática do Congo ao longo de décadas. Neste anos, foram mais de 12 mil casos e pelo menos 470 mortes neste ano, segundo a Associated Press.
Recentes testes laboratoriais encontraram uma nova cepa na região, com mutações que facilitam a transmissão entre humanos. Originada em Kamituga, uma cidade mineradora, a cepa se espalhou para várias cidades ao longo da fronteira, incluindo Goma próximo ao Ruanda. Os casos estão aumentando, envolvendo crianças, profissionais de saúde e famílias inteiras. A OMS alerta para o risco elevado de propagação internacional e transfronteiriça, com potencial para causar doenças graves.
A nova cepa, pertencente ao Clade I e mais letal, difere de surtos anteriores na região ao ser transmitida também por contato não sexual, aumentando seu perigo. Crianças, inclusive recém-nascidos durante a gravidez, foram amplamente afetadas. Mulheres grávidas infectadas relataram abortos, enquanto alguns pacientes desenvolveram complicações crônicas nos olhos, pele e órgãos genitais.
Contágio
O vírus, originalmente conhecido como varíola dos macacos, se espalha através do contato direto com fluidos corporais e causa sintomas semelhantes aos da gripe, além de lesões com pus na pele.
Em julho de 2022, a doença estava se espalhando rapidamente, mas o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Ghebreyesus, disse que a agência “foi muito encorajada pela resposta rápida dos países”.
A doença circula desde 1970 e ocorreu principalmente em áreas de floresta tropical da África Central e Ocidental. Foi declarada emergência depois que casos começaram a surgir na Europa, América do Norte e outros lugares, principalmente entre homens gays e bissexuais. A varíola M não tem associação a nenhum grupo específico e pode atingir qualquer pessoa.