Os Estados Unidos intervieram na venda de uma mina de cobre na República Democrática do Congo a um fabricante chinês de armas, em um movimento para frear o avanço de Beijing sobre minerais essenciais, fundamentais para o desenvolvimento tecnológico, infraestrutural e industrial. As informações são do jornal Financial Times.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, autoridades norte-americanas pressionaram a mineradora estatal congolesa Gécamines a reconsiderar a venda. Com isso, a Gécamines anunciou que irá se opor à venda da Chemaf Resources, que conta com o apoio do Trafigura Group, uma subsidiária da gigante estatal chinesa de defesa Norinco. A empresa, líder na indústria de defesa chinesa e fornecedora principal de armamento para o Exército Chinês, possui duas outras minas de cobre-cobalto no sudeste do país africano.

A medida é parte dos esforços de Washington para garantir que empresas amigáveis ao país tenham acesso a metais, em meio à crescente competição entre o Ocidente e a China pelos minerais necessários para a infraestrutura de energia limpa.

A Chemaf aluga a permissão para seu principal projeto, Mutoshi, da Gécamines. A mineradora estatal afirmou que deveria ter sido informada sobre o acordo com antecedência e que qualquer mudança no controle “direto ou indireto” não poderia acontecer sem sua aprovação.

A Gécamines anunciou na segunda-feira (1º) que seu conselho rejeitou o acordo depois de saber sobre ele pela mídia. A Chemaf disse que informou a Gécamines antes de anunciar a venda e que ainda não recebeu nenhuma resposta da mineradora estatal. Acrescentou que já obteve a aprovação do ministro das Minas do Congo.

“A empresa realizou um processo de vendas internacionais e recebeu interesse de grupos dos EUA, mas nenhuma transação viável foi concretizada”, afirmou a Gécamines à reportagem.

A Gécamines tem histórico de intervir em vendas de ativos de mineração para bloquear transações, renegociar direitos ou garantir pagamentos. O novo presidente, Guy Robert Lukama, nomeado em 2023 para reerguer a empresa em dificuldades, anunciou planos de revisar contratos desfavoráveis e parcerias. Uma fonte próxima à estatal congolesa, que preferiu não se identificar, explicou que a empresa está agindo para proteger seus direitos contratuais e considerar as melhores opções para o desenvolvimento do projeto.

Sob Lukama, a Gécamines busca aumentar a comercialização do minério produzido em suas concessões e expandir suas operações de mineração.

Essenciais para indústria de defesa

O cobalto e o cobre são metais essenciais para equipamentos militares, como superligas para caças e componentes de fiação e munições.

Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2020 identificou a Norinco entre as empresas chinesas que forneceram armas ao Congo pelo menos oito vezes entre 2015 e 2019. Desde 2020, o Tesouro dos EUA proibiu investimentos de empresas ou indivíduos americanos na estatal chinesa.

Os minerais

Os minerais essenciais têm uma ampla gama de usos em diversas indústrias e aplicações. Alguns dos principais minerais essenciais e seus usos incluem:

Cobre: utilizado extensivamente na indústria elétrica e eletrônica para fiação, componentes eletrônicos e motores. Também é essencial para a construção de infraestrutura, como tubulações e telhados.

Cobalto: usado em superligas metálicas para turbinas de aviões, componentes de motores e em baterias recarregáveis, especialmente em veículos elétricos.

Lítio: principalmente utilizado em baterias de íon-lítio para eletrônicos portáteis, veículos elétricos e armazenamento de energia renovável.

Terras raras: engloba elementos como neodímio, gadolínio e lantânio, que são essenciais para ímãs de alta potência (usados em turbinas eólicas e motores elétricos), catalisadores, telas de cristal líquido e lasers.

Alumínio: Amplamente utilizado na indústria de transporte, embalagens, construção civil e aeronáutica devido à sua leveza, resistência à corrosão e maleabilidade.

Zinco: Crucial para galvanização de metais, protegendo o aço da corrosão. Também é utilizado em ligas metálicas, baterias e produtos farmacêuticos.