França condena ex-médico ruandês a 24 anos por envolvimento no genocídio de 1994

Sentença contra Sosthene Munyemana chega quase 30 anos após evento que resultou na morte de mais de 800 mil pessoas

Nesta quarta-feira (20), o ex-médico Sosthene Munyemana foi condenado a 24 anos de prisão por um tribunal de Paris devido ao seu papel no genocídio de 1994 em Ruanda, episódio histórico que deixou cicatrizes profundas na sociedade ruandesa. As informações são da agência Associated Press (AP).

Munyemana, de 68 anos, enfrentou acusações de genocídio, crimes contra a humanidade e contribuição para a preparação do genocídio. Seus advogados planejam apelar da decisão, e ele irá permanecer em liberdade durante o processo de apelação.

A sentença chega quase 30 anos após evento que resultou na morte de mais de 800 mil pessoas. As vítimas eram em sua grande maioria tutsis, mas também hutu moderados, twa e outros que se opuseram ao genocídio. Todos foram assassinados em menos de três meses no país da África Ocidental. 

Munyemana, então ginecologista, foi acusado de apoiar o governo interino que supervisionou o genocídio e de participar de comitês locais que organizaram perseguições aos civis tutsis. O médico, que se mudou para a França após a limpeza étnica, sempre negou qualquer envolvimento nos crimes.

Um pai busca por seu filho desaparecido com o auxílio da Cruz Vermelha durante o genocídio em Ruanda em 1994 (Foto: WikiCommons)

Durante o genocídio, que ocorreu durante um período de aproximadamente 100 dias, entre abril e julho de 1994, mulheres foram estupradas, crianças foram mortas e muitas famílias foram deslocadas. A violência foi desencadeada após o assassinato do presidente hutu Juvenal Habyarimana em 6 de abril do mesmo ano, quando seu avião foi derrubado. As Nações Unidas (ONU) e a comunidade internacional foram criticadas por sua resposta lenta e inadequada à tragédia.

Munyemena, que tinha vida profissional em Butare, ao sul de Ruanda, foi acusado de organizar bloqueios de estradas para prender pessoas antes de serem mortas em condições desumanas nos escritórios do governo local. Ele também é acusado de redigir uma carta que incentivava o massacre de tutsis, documento que motivou ataques.

Durante o julgamento em Paris, Munyemana negou repetidamente as acusações, afirmando ser um hutu moderado que buscava proteger os tutsis, oferecendo-lhes refúgio nos escritórios do governo local. O promotor do caso pediu uma sentença de 30 anos de prisão.

Munyemana era um colaborador próximo de Jean Kambanda, primeiro-ministro interino durante o genocídio de 1994. Kambanda está atualmente cumprindo prisão perpétua no Mali por seu papel nos crimes de guerra relacionados ao episódio.

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