Interferência militar do Egito aumenta tensão entre Somália e Etiópia

Governo egípcio enviou navio carregado com armas a Mogadíscio e se propôs a substituir as forças etíopes em missão da União Africana

A crise diplomática entre Somália e Etiópia se intensificou nos últimos dias, após o Egito entregar armas e propor o envio de um destacamento militar a Mogadíscio. Somalis e egípcios assinaram em agosto um acordo de defesa, e os recentes desdobramentos do pacto incomodam o governo etíope.

“Um carregamento de ajuda militar egípcia chegou à capital somali, Mogadíscio, para apoiar e desenvolver as capacidades do exército somali”, disse o Ministério das Relações Exteriores do Egito em comunicado, informou a rede Al Jazeera.

O texto acrescenta que o carregamento “reafirma o papel central contínuo do Egito no apoio aos esforços somalis para desenvolver as capacidades nacionais necessárias para atender às aspirações do povo somali por segurança, estabilidade e desenvolvimento”.

Soldados do exército da Etiópia em janeiro de 2014 (Foto: Tobin Jones/Wikimedia Commons)

O navio com as armas ancorou na capital somali no domingo (22), e o processo de retirada do armamento se estendeu até segunda-feira (23). O material desembarcado foi então levado a um prédio do Ministério da Defesa e a bases militares próximas, segundo a agência Reuters.

De acordo com o site The Africa Report, o carregamento tinha artefatos de artilharia e de defesa antiaérea e serve para complementar uma entrega anterior de armas, esta feita por aviões egípcios em agosto.

Paralelamente, o Egito se propôs a enviar tropas para substituir os soldados etíopes que atuam na Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS). Mogadíscio contesta a presença dos soldados etíopes, cerca de cinco mil, e concorda que sejam substituídos pelos egípcios.

A Etiópia, entretanto, não recebeu bem a iniciativa do Egito. O ministro das Relações Exteriores etíope Taye Atske Selassie se disse preocupado que armas enviadas por “forças externas possam agravar ainda mais a frágil segurança e acabar nas mãos de terroristas na Somália”, conforme relatou a agência Reuters.

Selassie se referiu à possibilidade de que as armas eventualmente cheguem ao grupo extremista Al-Shabaab, que protagoniza um violento conflito com o governo da Somália e invariavelmente realiza ataques contra bases militares somalis.

A origem do conflito

A disputa entre somalis e etíopes está ligada à luta por independência da Somalilândia, que foi colônia britânica até 1960, quando se tornou independente. Logo na sequência, entretanto, optou por se unir voluntariamente à Somália e assim permaneceu até declarar novamente sua soberania em 1991.

A decisão do governo da Etiópia de reconhecer a independência da Somalilândia, em janeiro deste ano, enfureceu Mogadíscio a ponto de aproximar os dois países de um conflito armado.

O Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA) chegou a se reunir emergencialmente à época e instou as duas nações a “exercerem contenção, desescalarem e se envolverem em um diálogo significativo para encontrar uma resolução pacífica da questão”.

Em troca do reconhecimento, a Somalilândia concedeu à Etiópia, um país sem acesso ao mar, o arrendamento por 50 anos de uma faixa de 20 quilômetros de costa, onde Adis Abeba pretende erguer uma base militar e um porto comercial.

O Egito se insere na disputa porque também tem problemas com a Etiópia, referentes a uma barragem que o governo etíope construiu no rio Nilo. Os egípcios dependem do rio para o fornecimento de água potável a um população em rápido crescimento, de cerca de cem milhões de habitantes. Já os etíopes alegam que a barragem ajudará a tirar muitos de seus 110 milhões de cidadãos da pobreza.

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