Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Os esforços para promover o diálogo e responder às preocupações dos políticos líbios estão sendo recebidos com “resistência obstinada, expectativas irracionais e indiferença” da sua parte, contrariamente ao interesse nacional, disse na terça-feira (16) o enviado da ONU (Organização das Nações Unidas) à nação do Norte de África.
O representante especial Abdoulaye Bathily disse ao Conselho de Segurança que, desde o final de 2022, os esforços liderados pela ONU para resolver a crise política da Líbia encontraram retrocessos nacionais e regionais, “revelando um desafio intencional para se envolver com seriedade e uma tenacidade para adiar perpetuamente as eleições”.
“Com um profundo sentimento de decepção, é desanimador ver indivíduos em posições de poder colocarem os seus interesses pessoais acima das necessidades do seu país”, disse ele.
Enfatizou a necessidade de os líderes líbios darem prioridade aos interesses nacionais sobre os pessoais, instando-os a alcançar uma solução política através de negociações e compromissos.
“Não podemos permitir que as aspirações de 2,8 milhões de eleitores líbios registados sejam ofuscadas pelos interesses estreitos de alguns ”, acrescentou.
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Posições arraigadas persistem
Bathily disse aos embaixadores que os cinco principais intervenientes líbios – Mohamed Takala, presidente do Conselho Superior de Estado; Abdul Hamid Dbeibeh, primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional; Agila Saleh, presidente da Câmara dos Representantes; General Khalifa Haftar, comandante do Exército; e Mohamed al-Menfi, presidente do Conselho Presidencial – não cederam às suas condições prévias para participar nas conversações .
“Apesar do envolvimento contínuo e extenso com os principais intervenientes institucionais, as suas posições persistentes estão impedindo significativamente os esforços para fazer avançar o processo político”, declarou o enviado.
Ele também observou que as complexidades foram exacerbadas por um “aparente acordo” entre al-Menfi, Saleh e Takala, conforme declaração conjunta após uma reunião trilateral em março no Cairo, com a qual a ONU não estava associada.
“As minhas discussões subsequentes com os líderes que participaram na reunião do Cairo revelaram interpretações divergentes e falta de detalhes sobre o seu resultado. Também há falta de adesão entre os líderes líbios que não participaram da reunião”, disse ele.
Economia ‘severamente tensa’
Na frente econômica, Bathily, que também chefia a Missão de Apoio da ONU na Líbia (UNSMIL), destacou o agravamento da situação e os avisos do Banco Central sobre uma crise de liquidez iminente.
Informou os embaixadores de uma sobretaxa temporária sobre o câmbio oficial de moeda estrangeira, combinada com o declínio do valor do dinar líbio e o acesso restrito a moedas estrangeiras, o que alimentou a ira pública no meio de preocupações crescentes com o aumento dos preços de bens e serviços essenciais.
“É imperativo que as autoridades líbias abordem não só os sintomas, mas também as causas profundas das persistentes práticas econômicas e financeiras prejudiciais”, afirmou o enviado da ONU, apelando às autoridades para que cheguem rapidamente a acordo sobre um orçamento nacional e administrem melhor os recursos do Estado.
Situação tensa de segurança
Bathily também destacou uma situação de segurança tensa em várias partes do país, incluindo grandes cidades como Trípoli e Misrata.
“A presença de atores armados e de armamento pesado na capital da Líbia é motivo de grande preocupação, pois constitui uma ameaça significativa à segurança da população civil”, alertou, enfatizando que qualquer escalada de tensões na Líbia agravaria a instabilidade não apenas no Chade, no Níger e no Sudão, mas também em toda a região do Sahel.
Ele também manifestou preocupação com a situação contínua dos migrantes, bem como com o aumento acentuado de raptos, desaparecimentos e detenções arbitrárias num contexto de impunidade enraizada que minou as liberdades fundamentais.