Níger abre portas para empresas russas para exploração de urânio

O governo do Níger busca diversificar suas parcerias internacionais após a suspensão das atividades de mineração de urânio pela Orano, grupo francês, em setembro de 2023

O governo do Níger tem incentivado ativamente o investimento de empresas russas para a exploração de urânio e outros recursos naturais do país, conforme declaração do ministro de Mineração, Ousmane Abarchi, nesta quarta-feira (13). A situação vem na esteira de uma crescente tensão diplomática com a França, ex-colonizadora do país, e uma reconfiguração das alianças geopolíticas na África Ocidental. As informações são do The Moscow Times.

O governo nigerino busca diversificar suas parcerias internacionais, especialmente após a suspensão das atividades da Orano, grupo nuclear francês, que interrompeu a mineração de urânio no Níger em setembro de 2023.

Isso aconteceu após a junta militar, que assumiu o poder em julho do mesmo ano, revogar a licença de exploração de um dos maiores depósitos de urânio do mundo. Abarchi confirmou que o Níger já está em negociações com empresas russas, não apenas para o urânio, mas também para outros recursos naturais estratégicos.

Imagem de satélite de minas de urânio da cidade de Arlit, Níger (Coordenação-Geral de Observação da Terra/INPE/Flickr)

O distanciamento da França é uma consequência das atitudes do governo francês, que, por meio de seu presidente, se recusou a reconhecer a autoridade da junta militar nigerina. Esse cenário levanta incertezas sobre a continuidade das operações de empresas francesas no país, criando uma abertura para novas parcerias, especialmente com a Rússia, que tem ampliado sua influência na região.

O Níger, o sétimo maior produtor de urânio do mundo, representa uma oportunidade estratégica para empresas russas, que têm buscado expandir sua presença em países africanos ricos em recursos naturais. Abarchi também indicou que o país está revisando suas políticas de mineração, com o objetivo de reformular as regras sobre a atuação de empresas estrangeiras, buscando maximizar os benefícios econômicos e garantir maior controle sobre seus recursos.

Esse movimento ocorre no contexto de uma tendência crescente na África Ocidental, onde vários países têm reavaliado suas antigas alianças com a França e estão buscando novas parcerias com a Rússia, China e outros atores internacionais. O Níger, portanto, se posiciona como um ponto chave de mudança, não só em termos de recursos naturais, mas também nas dinâmicas de poder e influência no continente.

Junta Militar contesta decisão da Orano

A junta militar do Níger está em desacordo com a decisão da empresa francesa Orano de interromper a produção de urânio no país, uma medida anunciada pela companhia no mês passado devido a desafios operacionais e financeiros, segundo a Voice of America. A empresa, que opera no Níger há mais de 50 anos, comunicou que suspenderia as atividades a partir da última quinta-feira, afetando a Somair, a última unidade do grupo francês em funcionamento no território.

A Orano, que é majoritária na Somair e possui participação na empresa estatal nigerina Sopamin, argumentou que a decisão foi motivada por um ambiente operacional cada vez mais difícil, agravado pela retirada da licença de operação no gigantesco depósito de urânio de Imouraren, no mês de junho, e pelo fechamento da fronteira do Níger com o Benim, que impossibilitou a exportação do minério. A junta militar do Níger justificou o fechamento da fronteira por questões de segurança.

No entanto, a Sopamin, acionista da Orano, manifestou indignação com a suspensão da produção, afirmando que não foi consultada sobre a decisão e que a medida carece de transparência. Em um documento datado de quinta-feira, a empresa nigerina também declarou que a suspensão viola princípios de governança e compromissos firmados entre as partes envolvidas no projeto.

A disputa ocorre em um momento de crescente tensão entre o Níger e a França, após a junta militar assumir o poder no país e adotar medidas que desafiam a presença e os interesses franceses. A Orano, que já enfrenta desafios no país devido às condições operacionais e políticas, agora se vê em uma situação ainda mais delicada, com a perda de uma das maiores fontes de urânio do mundo e a incerteza quanto ao futuro de suas operações no Níger.

Com a decisão da Orano, a produção de urânio no Níger, um dos maiores fornecedores do mineral para a indústria nuclear global, está em risco, o que pode gerar repercussões significativas no mercado internacional de energia. O futuro das operações da empresa no país e o relacionamento com a junta militar permanecem incertos, enquanto o Níger segue reforçando seu controle sobre os recursos naturais, ao mesmo tempo que se distancia das potências estrangeiras.

Por que isso importa?

O urânio é um recurso natural estratégico, essencial para a geração de energia nuclear e aplicações militares, posicionando-se no centro de disputas geopolíticas globais. Utilizado como combustível em reatores nucleares, ele é responsável por cerca de 10% da eletricidade mundial, sendo uma fonte de energia limpa que contribui para a descarbonização. Países como a França, onde quase 70% da eletricidade vem de usinas nucleares, dependem fortemente desse minério para garantir sua segurança energética.

Nesse cenário, o Níger desponta como um dos maiores produtores globais de urânio, responsável por cerca de 5% a 6% da produção mundial. O país é uma fonte crucial para suprir a demanda europeia, especialmente da França, que importa cerca de 30% de seu urânio das minas nigerinas operadas pela empresa estatal francesa Orano. A estabilidade do fornecimento do urânio do Níger é vital para a manutenção das usinas nucleares francesas, que são pilares de sua matriz energética.

No entanto, a recente instabilidade política no Níger, agravada por um golpe militar, levanta preocupações sobre o futuro do abastecimento desse recurso estratégico. O país, além de enfrentar pressões internas, também se tornou palco de uma disputa de influência entre potências como França e China, que buscam assegurar o acesso às suas ricas reservas de urânio.

Com uma economia fortemente dependente da exportação desse minério, o Níger precisa equilibrar interesses externos e questões internas para garantir a exploração sustentável e a diversificação econômica. A importância crescente do urânio em um mundo que busca alternativas energéticas de baixo carbono coloca o país em uma posição delicada, mas estratégica, na arena global.

Tags: