ONU: Confrontos não cessaram em Palma, alertam agências de Moçambique

Jihadistas invadiram Palma, em Cabo Delgado; redes de comunicação estão cortadas e número de mortos é incerto

Este conteúdo foi publicado originalmente no portal ONU News, da Organização das Nações Unidas

Agências da ONU e parceiros humanitários estão respondendo rapidamente à crise em Palma, no norte de Moçambique, após os ataques de terroristas e extremistas em 24 de março

Segundo a OIM (Organização Internacional para Migrações), ainda havia relatos de confrontos esporádicos na cidade de Palma na manhã desta terça-feira. A agência está extremamente preocupada e diz que a situação no terreno ainda é muito volátil e dinâmica e há poucas informações disponíveis.

Muitos dos evacuados viram seus familiares serem mortos e se esconderam na floresta para fugir de homens armados e grupos não-estatais. Outros não sabem o paradeiro de seus parentes. Muitas casas foram destruídas.

ONU: Confrontos não cessaram em Palma, alertam agências de Moçambique
Atendimento a famílias deslocadas após os conflitos de Cabo Delgado, Moçambique, em dezembro de 2020 (Foto: Unicef/Mauricio Bisol)

A OIM enviou equipes em áreas que estão recebendo os deslocados internos. Muitos fugiram apenas com a roupa do corpo. Até terça-feira, 3.361 deslocados internos, ou 672 famílias, haviam sido registrados chegando a pé, de ônibus e de barco de Palma aos distritos de Nanagde, Mueda, Montpeuze e cidade de Pemba. Cerca de 1,7 mil estavam em Mueda. 

Cerca de 350 chegaram a Pemba, capita da província de Cabo Delgado, em barco, avião e pela estrada. A agência alerta ao influxo de mais refugiados por mar. O número de pessoas em trânsito é provavelmente maior. 

Essa assistência inclui insumos e aparelhos médicos, como cadeiras de rodas ou muletas, distribuição de itens de emergência como máscaras, baldes, tabletes purificadores de água, e sabão para ajudar a prevenir a propagação de Covid-19 e cólera.

Também estão sendo distribuídos abrigos básicos e utensílios domésticos. Equipes humanitárias já forneceram atendimento à saúde mental, aconselhamento psicossocial e assistência de proteção a centenas de pessoas. Conforme dados da OIM, 670 mil moçambicanos já se deslocaram no norte do país desde o início dos ataques em outubro de 2017. 

Crianças 

A porta-voz do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Marixie Mercado, que está em Pemba, contou que a agência estava recebendo crianças retiradas pelos Serviços Aéreos Humanitários da ONU, no aeroporto da cidade. 

No avião, havia pelo menos sete menores desacompanhados. Muitos passaram dias escondidos no mato, sem comida e água. No Hospital de Pemba, as autoridades locais fazem o possível para cuidar das crianças feridas. Um menino de 13 meses que estava com a mãe tinha uma bala alojada em sua perna. A cirurgia está prevista para esta quarta-feira. 

Antes da crise em Palma, já havia cerca de 350 mil crianças deslocadas pelo conflito armado em Cabo Delgado, ao norte de Moçambique. Nesse momento, existe um surto de cólera e a Covid-19 está se espalhando.  

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Imagem dos militantes que invadiram Palma, Moçambique, em 24 de março de 2021 (Foto: Reprodução/Amaq)

A porta-voz do Unicef lembrou que “as pessoas têm lidado com um choque após o outro, incluindo ciclones e eventos climáticos extremos, desde 2019” e pediu que a comunidade internacional “não se esqueça dos filhos de Cabo Delgado.” 

Segundo o Ocha (Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários), existem mais de 110 mil pessoas no distrito de Palma. Desses, cerca de 40% já se deslocaram a outras partes de Cabo Delgado.  

Nesse momento, as comunicações estão interrompidas em Palma e é extremamente difícil verificar as informações sobre a situação. No entanto, a agência recebeu relatos alarmantes de que dezenas de civis podem ter sido mortos durante os ataques e confrontos. 

Gás natural 

Os relatos indicam que milhares de pessoas fugiram para o mato em redor da cidade, enquanto vários milhares procuraram refúgio perto do local de gás natural de Afunga, que fica a 15 km por estrada. 

Milhares de pessoas devem percorrer o caminho a pé, de barco e de estrada para alcançar destinos mais seguros, incluindo Pemba, cerca de 400 km ao sul ao longo da costa.  

Também há relatos de pessoas fugindo em outras direções, incluindo para a fronteira com a Tanzânia e para oeste pelo mato em direção aos distritos de Mueda e Montepuez. 

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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