Quênia quer proibir importação de peixes da China para proteger setor pesqueiro

Para atender às demandas locais, peixeiros têm que complementar o estoque com peixes importados da China, mais barato que o adquirido localmente

O Comitê de Agricultura da Assembleia Nacional do Quênia quer proibir a importação de peixes da China. A medida visa à proteção da atividade de pesca e dos pescadores nativos da nação africana, segundo informações do portal All Africa.

De acordo com os legisladores, o Quênia tem estoques de peixes suficientes em seus lagos, rios e oceanos, e o projeto de lei deve trazer melhorias ao setor.

“Não vejo por que devemos importar da China quando temos peixes suficientes no país. Há muito potencial em nossas águas, devemos capturá-lo”, argumentou o presidente do comitê, Silas Tiren, acrescentando que “os países estrangeiros estão pescando em nossas águas e depois vendendo para nós, o que mostra que temos potencial suficiente”, ponderou.

Com arrastão, pescadores locais no Quênia enfrentam embarcações chinesas com tecnologia para a pesca em águas profundas (Foto: Wikimedia Commons/Divulgação)

Números oficiais divulgados pelo portal Africa News mostram que, em 2019, o Quênia registrou uma produção anual de peixes de 146,6 mil toneladas métricas (TM): 102.331 TM de produção de água doce, 18.542 TM da aquicultura e 23.700 TM de recursos marinhos.

Mercado local chinês

Relatório divulgado pelo rastreador Global Fishing Watch (site que monitora atividades de pesca comercial no mundo) revelou que, entre maio e agosto, as águas do Quênia tiveram tráfego de mais de 230 embarcações, sendo a maior parte de origem estrangeira.

A maioria desses pesqueiros pertence a países como Itália, China, Taiwan e Hong Kong, tendo registrando aproximadamente 50 mil horas dentro da fronteira marítima queniana. As embarcações têm tecnologia para a pesca em águas profundas, enquanto, por falta de recursos, os quenianos limitam-se à atividade semi-industrial.

Relatórios indicam que, para atender às demandas locais, peixeiros de diversas regiões do Quênia têm que complementar seu estoque diário com peixes importados da China, mais baratos que os adquiridos localmente.

“Eu apoio a proibição, mas devemos capacitar o pescador para primeiro aumentar a produção. Um quilo de tilápia da China é vendido a 250 xelins quenianos, enquanto o mesmo peixe do Lago Vitória é 500”, disse o presidente da Associação Wavuvi do Quênia, Hamidi Omar.

Enquanto o Quênia atravessa grande déficit de pescado no mercado local, a China responde pela maior parte dos peixes importados do mundo, arrecadando 70% do valor total dos embarques em 2020, conforme aponta a reportagem do Africa News.

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