Sob pressão, Nigéria anuncia corte marcial para militares ligados a massacre de civis

Ação de drone durante uma operação de contraterrorismo deixou 85 mortos e dezenas de feridos em dezembro de 2023

A Nigéria anunciou na sexta-feira (3) que dois militares enfrentarão uma corte marcial sob a acusação de participação em um massacre de civis ocorrido em dezembro de 2023. Na oportunidade, um ataque de drones matou 85 pessoas e feriu dezenas em uma vila no estado de Kaduna. As informações são da agência Associated Press (AP).

Sob pressão de grupos de direitos humanos, o governo nigeriano diz que conduziu uma investigação e apurou que os civis atingidos no ataque “foram confundidos com terroristas” em meio a uma operação de combate à insurgência islâmica na nação africana. O alvo seria o grupo Boko Haram, ligado à Al-Qaeda.

Segundo o major-general Edward Buba, porta-voz do setor de Defesa, dois indivíduos foram identificados como tendo atuado decisivamente no episódio e serão julgados por um tribunal militar, mas os nomes deles não foram revelados.

Imagem meramente ilustrativa de um ataque aéreo das Forças Armadas da Nigéria compartilhada através das redes sociais em novembro de 2023 (Foto: facebook.com/hqnigerianairforce)

Ataques aéreos em operações de combate ao terrorismo são frequentes e invariavelmente terminam com baixas civis. Desde 2017, quase 400 pessoas inocentes teriam sido mortas em ações do gênero, de acordo com a empresa de segurança SBM Intelligence, que atua em Lagos, a maior cidade da Nigéria.

Embora tenha exaltado a decisão do governo de levar os militares à Justiça, a ONG Human Rights Watch (HRW) cobrou maior transparência no caso, criticando a falta de informações referentes à investigação que levou à denúncia contra os dois acusados e pedindo apoio a familiares das vítimas.

“Após o ataque aéreo em Tundun Biri, em dezembro, as autoridades militares assumiram a responsabilidade pelo incidente e pediram desculpa à comunidade, enquanto o presidente da Nigéria, Bola Ahmed Tinubu, ordenou a realização de uma investigação”, disse a HRW, citando um segundo episódio semelhante, em janeiro de 2023, que matou outras 39 pessoas.

A ONG destacou, porém, que familiares das pessoas mortas nos ataques não receberam qualquer compensação do governo, nem mesmo apoio psicológico para lidar com a tragédia. E ressaltou que o anúncio das Forças Armadas sobre a conclusão da investigação e o consequente julgamento não mencionou quaisquer medidas nesse sentido.

“É realmente necessário que haja um processo bem pensado para garantir a responsabilização e a justiça para as vítimas destes ataques aéreos”, disse Anietie Ewang, investigadora nigeriana da HRW.

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