Somália fala em ir à guerra contra a Etiópia e obriga a União Africana a intervir

Adis Abeba reconhece a independência da Somalilândia em troca de acesso ao mar e enfurece Mogadíscio, que promete retaliar

A decisão do governo da Etiópia de reconhecer a independência da Somalilândia, região que oficialmente faz parte da Somália e desde 1991 luta para ter sua soberania reconhecida internacionalmente, enfureceu Mogadíscio a ponto de aproximar os dois países de um conflito armado. A tensão levou a União Africana (UA) a se manifestar na quarta-feira (17) pedindo moderação, segundo a agência Al Jazeera.

O Conselho de Paz e Segurança do bloco se reuniu para debater a questão e na sequência emitiu uma nota, instando as duas nações vizinhas a “exercerem contenção, desescalarem e se envolverem em um diálogo significativo para encontrar uma resolução pacífica da questão.”

Em troca do reconhecimento, a Somalilândia concedeu à Etiópia, um país sem acesso ao mar, o arrendamento por 50 anos de uma faixa de 20 quilômetros de costa, onde Adis Abeba pretende erguer uma base militar e um porto comercial.

Representantes do governo da região separatista da Somalilândia em 2013 (Foto: EU Navfor/ Flickr)

A Somália, que desde 1991 luta contra a reivindicação de independência da Somalilândia, classificou o acordo como uma violação de sua soberania e integridade territorial. O presidente Hassan Sheikh Mohamud chegou a alertar seus cidadãos para a possibilidade de uma guerra, pedindo a eles que “se prepararem para a defesa da nossa pátria”, de acordo com o jornal The Guardian.

“Estamos perseguindo todas as opções diplomáticas, e creio que a Etiópia vai cair em si”, disse Mohamud. “Mas estamos prontos para uma guerra se Abiy quiser uma guerra”, acrescentou, referindo-se ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed.

No que depender da Somália, a única solução diplomática possível para o impasse é a ruptura do acordo entre Etiópia e Somalilândia. A possibilidade de resolver a questão através da mediação foi prontamente descarta por Mogadíscio, que classificou o pacto como “ilegal”.

Por que isso importa?

A Somalilândia foi colônia britânica até 1960, quando se tornou independente. Logo na sequência, entretanto, optou por se unir voluntariamente à Somália e assim permaneceu até declarar novamente sua soberania em 1991.

A independência jamais foi reconhecida por outros países, e até hoje a Somália reivindica a Somalilândia como parte de seu território. Trata-se, porém, de um Estado autônomo de fato, como moeda própria, parlamento e missões diplomáticas no exterior.

Diferente da Somália, que sofre especialmente com a insurreição do Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda, a Somalilândia goza de relativa paz e há décadas aguarda o reconhecimento da comunidade internacional como nação independente.

A aliança entre o governo da Somalilândia e a Etiópia é especialmente delicada devido à tensão histórica entre Adis Abeba e Mogadíscio, que vem desde o final da Segunda Guerra Mundial e atingiu o ápice entre 1977 e 1978, quando os dois países travaram uma guerra.

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