Associados ao Hezbollah são presos no Brasil sob suspeita de planejar ataques contra judeus

Polícia Federal apontou que edifícios pertencentes à comunidade judaica estavam sob ameaça de ataques. Duas pessoas foram detidas

Nesta quarta-feira (8), a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Trapiche, com o objetivo de obter provas de um possível recrutamento de brasileiros pelo Hezbollah, que paralelamente estaria preparando ataques contra judeus residentes no país. Duas pessoas foram presas suspeitas de ligação com o grupo político e militar xiita libanês.

Além de dois mandados de prisão temporária, as autoridades federais cumpriram 11 ordens de busca e apreensão, todos expedidas pela Subseção Judiciária de Belo Horizonte, abrangendo os estados de Minas Gerais, São Paulo e o Distrito Federal. Segundo o jornal O Globo, os suspeitos planejavam atacar edifícios da comunidade judaica.

Um dos detidos na cidade de São Paulo foi capturado no momento em que desembarcava de uma viagem procedente do Líbano. A PF suspeita que ele tenha trazido informações para compartilhar com seu cúmplice, com o suposto propósito de executar os ataques terroristas.

A Operação Trapiche se baseia na rígida lei antiterrorismo do Brasil, promulgada antes dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016. A legislação adota uma postura contundente contra a prática de atos motivados por xenofobia, discriminação racial, étnica e religiosa.

Polícia Federal brasileira (Foto: divulgação)
Antissemitismo no país

O Brasil enfrenta um alarmante aumento de incidentes antissemitas, resultando em crescentes tensão e vigilância entre a comunidade judaica. De acordo com um relatório da Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgado em maio de 2023, houve um aumento vertiginoso de 760% nos incidentes antissemitas relacionados a escolas nos últimos três anos.

Essa escalada de problemas eleva a preocupação com possíveis ameaças e destaca a urgente necessidade de ações preventivas por parte das autoridades de aplicação da lei, segundo o Conib.

Informações do Congresso Judaico Mundial, organização internacional que representa organizações judaicas, o Brasil abriga aproximadamente 92 mil judeus, o que o posiciona como a décima maior comunidade global e a segunda maior na América Latina, ficando atrás apenas da Argentina.

Hezbollah na América do Sul

Relatórios do governo dos EUA sugerem que o Hezbollah está envolvido na captação de recursos por meio de atividades ilegais, como contrabando, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai. Essas atividades seriam utilizadas para financiar as operações do grupo no exterior.

Em janeiro, o Departamento do Tesouro norte-americano relacionou o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes à lavagem de dinheiro associada ao Hezbollah.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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