Eleições no Chile têm duelo emblemático: comunista vs. filho de nazista

Jeannette Jara, ex-ministra de Gabriel Boric, disputa a presidência chilena com José Antonio Kast, político de extrema direita e herdeiro de uma família ligada ao nazismo e à ditadura de Pinochet

O Chile volta às urnas no domingo (16) para escolher o sucessor de Gabriel Boric. A disputa promete ser polarizada: de um lado, Jeannette Jara Román, ex-ministra do Trabalho e representante do Partido Comunista; de outro, José Antonio Kast, líder do Partido Republicano, figura central da extrema direita e filho de um ex-oficial nazista alemão. As informações são do site independente Truth Out.

A eleição será a nona desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, e acontece em um momento de forte tensão social. Pesquisas indicam que Kast lidera com leve vantagem, impulsionado por pautas conservadoras e um discurso centrado em segurança pública e combate à imigração irregular.

Kast e Jeannette (Fotos: WikiCommons)

Jeannette Jara, por sua vez, aposta na valorização do trabalho, na redução da desigualdade e na defesa de políticas públicas progressistas. Nascida em um bairro operário de Santiago e criada pela avó em uma casa sem água encanada, Jara se filiou à Juventude Comunista aos 14 anos. Como ministra de Boric, foi responsável por implementar a redução da jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais e promover a Lei Karin, que combate o assédio e a violência no ambiente de trabalho.

Analistas políticos chilenos apontam que Jara representa a ala mais moderada do Partido Comunista, próxima do socialismo democrático. Já Kast mantém um discurso ultraconservador, alinhado a valores autoritários e nacionalistas. Seu pai, Michael Kast Schindele, foi membro do Partido Nazista em 1942, antes de fugir para a América do Sul após a Segunda Guerra Mundial.

O historiador Sergio Grez Toso, da Universidade do Chile, afirma que o avanço da direita é reflexo de uma “reação conservadora” ao governo Boric. “Desde o fracasso da nova Constituição, há um clima de desilusão entre os setores progressistas e uma guinada cultural à direita”, explicou.

A candidatura de Kast também se fortalece em meio à cobertura intensa sobre o aumento da criminalidade, ainda que o Chile tenha uma das menores taxas de homicídio da América Latina. O tema da segurança domina o debate público, ao lado da imigração, que cresceu 16% entre 2018 e 2023.

Com um eleitorado dividido, o segundo turno está praticamente garantido. Pesquisadores como Rafael Agacino e Andrés Figueroa Cornejo avaliam que Kast tem a maior probabilidade de vitória, a menos que um “evento extraordinário e imprevisível” mude o cenário político nas próximas semanas.

A votação do primeiro turno ocorre em 16 de novembro, com o segundo previsto para dezembro. O resultado definirá se o Chile continuará na trilha progressista de Boric ou se voltará a ser governado por um representante da extrema direita, filho de um ex-nazista e defensor do legado de Pinochet.

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