EUA denunciam rede de desinformação russa que atua no Brasil e recrutou brasileiros para lutar na Ucrânia

Movimento Nova Resistência é classificado por Washington como 'neofascista' e 'quase paramilitar' e difunde propaganda pró-Kremlin

O Departamento de Estado norte-americano revelou no final da última semana a existência de uma rede global de desinformação patrocinada pela Rússia que conta com uma importante ramificação no Brasil. A New Resistance, “uma organização neofascista quase paramilitar”, opera em vários continentes, inclusive na América do Sul, para “manipular informação e disseminar ideologias antidemocráticas e autoritárias ao redor do mundo.” O movimento atuou inclusive na mobilização de cidadãos brasileiros que lutaram ao lado das forças russas na região de Donbass, no leste da Ucrânia.

Segundo o relatório divulgado pelo governo dos Estados Unidos, o principal expoente no Brasil é o movimento Nova Resistência, composto por “uma rede de desinformação e propaganda pró-Kremlin” e inspirado nas ideias de Alexander Dugin, “filósofo” russo sancionado por Washington e “principal proponente de um movimento imperialista eurasiano antiocidental liderado pela Rússia.”

A Rede Sincrética de Desinformação (SDN, na sigla em inglês), como foi classificada pelo Departamento de Estado a cadeia de afiliados da New Resistance global, “promove agressivamente a Quarta Teoria Política de Dugin”, cujo objetivo é unir movimentos de extrema direita e extrema esquerda para “destruir a ordem pós-Segunda Guerra Mundial.”

Fake news: desinformação é arma da Rússia na bipolarização geopolítica atual (Foto: Lewis Ogden/Flickr)

No caso de sua ramificação brasileira, o relatório diz se tratar de um movimento “particularmente ativo”, que inclusive ajuda a organizar eventos com Dugin e autoridades russas de alto escalão, como seminários e cursos no site oficial, que é registrado na Rússia, e no YouTube.

O conteúdo difundido pela Nova Resistência é compatível com o de veículos conhecidos pelo vínculo com a inteligência russa, diz o relatório, que acrescenta: “Membros do grupo têm se reunido repetidamente com representantes de Belarus, Coreia do Norte, Síria e Venezuela e têm expressado abertamente seu apoio ao Hezbollah, organização terrorista apoiada pelo Irã.”

No Brasil, a Nova Resistência estabeleceu um grupo composto por “organizações nacionalistas e revolucionárias” que não apenas difunde ideias, entre elas a de legitimar a agressão russa à Ucrânia que desencadeou a guerra em curso na Europa. Também apoia atividades paramilitares e chegou a recrutar brasileiros que lutaram ao lado das forças russas na região de Donbass, anexada por Moscou em 2014.

Além do movimento em si, o documento do Departamento de Estado cita como parte da cadeia de afiliados o site de propaganda Fort Russ News (FRN), escrito em inglês, e o think tank autoritário Centro para Estudos Sincréticos (CSS). Ambos, porém, estão agora desativados.

“O FRN foi encerrado, por razões desconhecidas, em fevereiro de 2022, poucos dias antes de a Rússia lançar a sua invasão em grande escala contra a Ucrânia”, diz o relatório. Já o CSS “serviu como um verniz pseudoacadêmico para as atividades de desinformação e propaganda do FRN, até que também entrou em um aparente hiato poucos dias após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.”

Tags: