Fechamento da USAID pode gerar instabilidade e favorecer Estado islâmico, alertam especialistas

Desmonte da agência humanitária enfraquece cooperação internacional contra o extremismo e facilita recrutamento de radicais

A decisão do governo norte-americano de esvaziar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pode ter efeitos inesperados na segurança global, aumentando a vulnerabilidade de comunidades carentes e favorecendo o recrutamento por grupos terroristas. Especialistas em contraterrorismo alertam que a suspensão dos programas de ajuda em regiões instáveis pode comprometer a inteligência e a cooperação no combate ao extremismo violento. As informações são da Newsweek.

O desmonte da USAID foi liderado pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), chefiado por Elon Musk. A Casa Branca, sob o governo de Donald Trump, argumenta que a agência desperdiçava recursos públicos e financiava projetos ineficientes, incluindo, segundo um informe oficial, repasses a organizações suspeitas de ligação com grupos terroristas. Segundo o documento, canalizou “enormes somas de dinheiro para projetos ridículos — e, em muitos casos, maliciosos — de burocratas entrincheirados, com quase nenhuma supervisão”.

A decisão gerou ações judiciais, mas o impacto mais imediato pode ser sentido em países da África e do Oriente Médio, onde a USAID operava projetos voltados para saúde, educação e desenvolvimento econômico. Richard Betts, professor da Universidade Columbia e ex-assessor da CIA, afirma que a falta de assistência pode gerar descontentamento e ser explorada por grupos extremistas. “A interrupção de programas essenciais afetará populações já vulneráveis, criando um ambiente propício para o recrutamento terrorista”, explica.

O bilionário Elon Musk lidera o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), responsável por reduzir desperdícios e fraudes nos gastos federais dos EUA (Foto: WikiCommons)

Outro ponto de preocupação é a perda de cooperação na luta contra o terrorismo. James Forest, especialista em segurança e inteligência, destaca que a presença da USAID ajudava a construir relações estratégicas com comunidades locais, incentivando o compartilhamento de informações com autoridades norte-americanas. “Sem esse vínculo, perdemos aliados fundamentais no combate ao extremismo”, afirma.

O vácuo deixado pela retirada da USAID pode ser preenchido por grupos como o Estado Islâmico, que se aproveitam da pobreza e da ausência de governança para ampliar sua influência. Para especialistas, essa instabilidade pode ter consequências de longo prazo, inclusive para a segurança dos próprios Estados Unidos. “Os atentados de 11 de setembro foram planejados por um pequeno grupo de jihadistas que operavam em um estado falido. Ignorar as lições do passado pode custar caro”, alerta Forest.

Diante dos riscos, analistas avaliam que a decisão do governo Trump de desmantelar a USAID pode ter sido precipitada. Em um mundo globalizado, os efeitos de ações como essa não se restringem a fronteiras nacionais — e a insegurança gerada por essa mudança pode se espalhar mais rápido do que se imagina.

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