As Filipinas ainda aguardam respostas do Pentágono sobre uma operação secreta dos EUA que visava semear dúvidas entre os filipinos sobre as vacinas chinesas durante o pico da pandemia de Covid-19, afirmou uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores na terça-feira (25). As informações são da agência Reuters.
Uma investigação da Reuters, divulgada em 14 de junho, revelou que o Pentágono conduziu uma campanha clandestina em 2020 e 2021 para desacreditar a vacina Sinovac e outras formas de assistência pandêmica da China em países em desenvolvimento. Ex-autoridades militares dos EUA que participaram da campanha confirmaram que cerca de 300 perfis falsos foram criados com o objetivo de atingir a população filipina com a desinformação, contestando a qualidade de máscaras faciais e testes de Covid-19 da Sinovac.
“Até o momento, não recebemos uma resposta oficial ou formal que confirme ou negue qualquer coisa. Estamos aguardando e continuamos a monitorar e solicitar informações”, afirmou o secretário adjunto de Relações Exteriores filipino, José Victor Chan-Gonzaga, ao Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, que está investigando o caso.

O objetivo dessa operação era contrariar o que Washington percebia como uma crescente influência geopolítica da China globalmente, incluindo no Sudeste Asiático. A iniciativa começou durante o governo do ex-presidente Donald Trump, em 2020, e se estendeu até meados de 2021, já sob a gestão de Joe Biden. Durou aproximadamente um ano e aos poucos atingiu também países do Oriente Médio e da Ásia Central.
A campanha só foi encerrada após Biden emitir um decreto proibindo iniciativas que questionassem a eficácia de vacinas contra a Covid-19, levando o Pentágono a iniciar uma revisão interna. Entretanto, especialistas citados pela Reuters avaliam que a desinformação difundida por Washington foi suficiente para colocar milhares de vidas em risco.
Após a publicação do artigo da Reuters, Chan-Gonzaga mencionou que o Ministério das Relações Exteriores contatou a embaixada dos EUA em Manila por meio de “nosso mecanismo de consultas regulares”, mas foi direcionado ao Departamento de Defesa dos EUA.
A senadora Imee Marcos, presidente da Comissão de Relações Exteriores, condenou a campanha militar dos EUA como “maléfica, perversa, perigosa e antiética”.
Marcos, que é irmã do presidente filipino Ferdinand Marcos Jr., destacou que o número de filipinos afetados pela Covid-19, tanto em casos quanto em mortes, foi “chocante”.
Até o momento, quase 67 mil filipinos perderam suas vidas devido à Covid-19, e o número de infecções ultrapassou 4,1 milhões, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), colocando as Filipinas entre os países mais impactados pela pandemia no Sudeste Asiático.
Na audiência do comitê do Senado na terça-feira, a subsecretária de Saúde Rosario Vergeire afirmou que as autoridades de saúde ficaram alarmadas com a disseminação de desinformação sobre vacinas, mas acreditavam que ela era “aleatória” e não organizada.