Isolado, Canadá não teve apoio ao acusar a Índia de assassinar líder separatista Sikh

Estados Unidos, Austrália e Reino Unido rejeitaram o pedido de Ottawa por declarações públicas acusatórias contra Nova Délhi

Semanas antes de o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau sugerir o possível envolvimento de as autoridades indianas no assassinato do líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar, ocorrido em junho, no estado canadense da Colúmbia Britânica, Ottawa pediu a seus aliados mais próximos, incluindo os EUA, que condenassem publicamente a ação. Mas não foi atendido, como mostra o jornal Washington Post.

As propostas foram rejeitadas, evidenciando os desafios diplomáticos enfrentados pelo governo Biden e seus aliados na busca por equilíbrio nas relações, conforme tentam fortalecer os laços com Nova Délhi, uma potência asiática vista vista como contrapeso crucial à China.

Trudeau, então, acabou isolado em sua missão de culpar a Índia pelo atentado contra o homem cuja morte causou indignação entre seus apoiadores e agravou as tensões entre os separatistas Sikh e o governo indiano.

Líder separatista sikh Hardeep Singh Nijjar (Foto: Facebook/reprodução)

A alegação do Canadá de que a Índia pode estar ligada ao assassinato de um ativista Sikh em solo canadense causou um aumento nas tensões também entre os dois países. Isso levou à expulsão de diplomatas de alto nível, resultando em uma piora nas relações entre eles.

As expulsões diplomáticas recíprocas ocorreram logo após Trudeau afirmar que o Canadá estava investigando “alegações críveis” que conectavam Nova Délhi ao assassinato de Nijjar, que era cidadão canadense.

“Nas últimas semanas, as agências de segurança canadenses têm investigado ativamente alegações críveis de possível envolvimento de agentes do governo indiano no assassinato do cidadão canadense Hardeep Singh Nijjar” , disse Trudeau no parlamento na segunda-feira (18), assegurando que seu governo tomará todas as medidas necessárias “para responsabilizar os autores deste assassinato.”

O governo indiano emitiu um comunicado na terça (19) rejeitando a acusação de Trudeau como “absurda e tendenciosa”. O Ministério das Relações Exteriores da Índia afirmou que as alegações têm o objetivo de “desviar a atenção dos terroristas e extremistas Khalistani, que encontraram refúgio no Canadá e continuam ameaçando a soberania e a integridade territorial da Índia”.

O comunicado também destacou a preocupação de longa data com a falta de ação por parte do governo canadense em relação a essa questão.

Separatista

O movimento ao qual Nijjar pertencia busca estabelecer um estado separatista chamado Khalistão na região de Punjab. Esse movimento conta com apoio tanto na Índia quanto entre a vasta diáspora Sikh global. Durante as décadas de 1980 e 1990, uma insurgência separatista em Punjab resultou na morte de milhares de pessoas. Em 2023, o governo indiano lançou uma extensa operação para capturar um líder militante pró-Khalistão.

Nijjar, de 45 anos, foi assassinado a tiros em Surrey, um subúrbio de Vancouver com uma significativa comunidade Sikh. O incidente ocorreu três anos após a Índia rotulá-lo como “terrorista”. Supostamente, ele estava envolvido na organização de um referendo não oficial na Índia com o objetivo de estabelecer uma nação independente quando foi morto.

Antes de Nijjar ser baleado por homens armados mascarados, a Índia havia intensificado uma campanha para pressionar países como Canadá, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, países que são o lar de comunidades Sikh significativas e frequentes manifestações pró-Khalistão, com o objetivo de reprimir esse movimento.

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