Comentaristas da extrema esquerda nos EUA têm adotado a prática de defender teses não embasadas por evidências. Neste caso, a de que não há violações contra a população de uigures em Xinjiang, no oeste da China, informa o Codastory, especializado na cobertura de campanhas de desinformação na internet.
O nome mais célebre dessa leva de radicais é Max Blumenthal, do site The Grayzone. O norte-americano é presença frequente em debates no portal russo RT, alinhado ao Kremlin, defendendo uma suposta “linguagem hostil direto da Guerra Fria” quando veículos de imprensa ocidentais denunciam estruturas análogas a campos de concentração na província.

Radicais dos mais diversos matizes ideológicos encontraram em discursos negacionistas uma estratégia para impulsionar sua audiência. A tática já é conhecida, e inclui frases de efeito, de alto impacto e de fácil viralização.
Ao circular pelas redes sociais, o comentarista choca uma parte dos espectadores ao mesmo tempo que soa “independente e sem amarras” ao endossar teses que, em tempos pré-redes sociais, ficariam circunscritas às franjas do debate público.
Segundo o Codastory, “as declarações de Blumenthal são vistas com revolta nas redes sociais e muitos o acusam de ignorar uma das maiores violações aos direitos humanos no século 21″.
A própria linha editorial que permeia as atividades do The Grayzone, até 2018 hospedado no “progressista” AlterNet, é fortemente crítica ao imperialismo norte-americano. Seu autor, Blumenthal, também já foi fonte de veículos como o chinês CGTN e o também russo Sputnik.
O posicionamento já ocasionou, por exemplo, defesa dos regimes de ditadores como o sírio Bashar al-Assad e o venezuelano Nicolás Maduro. Os blogueiros questionavam relatos que chegavam dos dois países.
Proving that Max Blumenthal sets no limits on the number of atrocities that he acts as apologist for https://t.co/6yL8SVrZQn https://t.co/2WMiBC6GAN
— Iain Levine (@iainlevine) July 28, 2020
O The Greyzone é o maior, mas não é o único a endossar visões controversas a título de questionamento de práticas imperialistas por parte do governo dos EUA. Como praxe, as críticas à China são categorizadas como manifestações “racistas”.
Em blogs como o LA Progressive ou o Black Agenda Report, a autora Margaret Kimberley classificou como “falsidades” as acusações de perseguição dos uigures em Xinjiang.
Questionados, os responsáveis pelo LA Progressive afirmaram que “não concordam com tudo que é publicado”, mas os pontos de vista “merecem consideração”.
Ao Codastory, um especialista em estudos sobre a Ásia pontuou que “ter ocidentais respaldando essas narrativas estatais ajuda a impulsionar essas alegações. Vem do Grayzone, não da imprensa estatal chinesa, embora ambos digam a mesma coisa”.