O que a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA significa para a Rússia?

Artigo diz que alguns em Moscou veem o resultado como uma janela de oportunidade, mas há poucos motivos para otimismo russo

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site do think tank Carnegie Endowment for International Peace

Por Tatiana Stanovaya

O presidente russo, Vladimir Putin, tem aparentado ser um homem de sorte nos últimos meses. O apoio ocidental à Ucrânia está enfraquecendo; negociações diretas com a Rússia deixaram de ser vistas como uma ideia marginal; e a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos reforçou a guinada à direita da política ocidental. Superficialmente, parece que Moscou está prestes a alcançar o que deseja. No entanto, essa percepção é enganosa: a posição real da Rússia é bem mais complexa. Há poucos motivos para otimismo no Kremlin.

Após quase três anos de conflito na Ucrânia, é amplamente reconhecido que a Rússia tem vantagem no campo de batalha. As forças russas avançam gradualmente, possuem mais armamentos e soldados e pressionam Kiev com ataques a infraestruturas críticas do país. As chances de uma nova contraofensiva ucraniana parecem mínimas, e não há sinais de crise política interna na Rússia. Em termos práticos, Putin está ganhando.

Os presidentes dos EUA, Donald Trump e da Rússia, Vladimir Putin, em julho de 2018 (Foto: Casa Branca/Flickr)

Com a vitória de Trump, muitos esperam a retomada de contatos diplomáticos de alto nível entre Washington e Moscou, uma redução da ajuda dos EUA à Ucrânia e divisões na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Porém, isso não significa uma vitória para o Kremlin. O problema é que nenhum líder ocidental — nem mesmo Trump — tem um plano para encerrar a guerra que seja aceitável para Putin. As soluções sugeridas não atendem às principais exigências russas, como a garantia de que a Otan nunca admitirá a Ucrânia ou que o governo em Kiev se torne pró-Rússia.

Há três caminhos principais que Putin pode explorar para alcançar seus objetivos, embora nenhum deles pareça promissor. O primeiro é o militar. Apesar de avanços recentes, especialistas concordam que a Rússia não possui soldados e equipamentos suficientes para tomar cidades ucranianas. O que Moscou pode fazer é avançar lentamente no campo de batalhas, ao custo de altas taxas de baixas.

O segundo caminho seria a capitulação de Kiev. Isso implicaria na substituição do presidente Volodymyr Zelensky por um líder disposto a atender a todas as demandas russas, incluindo neutralidade da Ucrânia, cortes drásticos em seu exército, mudanças constitucionais favoráveis a grupos pró-Rússia e a cessão de territórios. Contudo, apesar das dificuldades enfrentadas pelo governo ucraniano, não há sinais de que essa opção esteja perto de se concretizar.

O terceiro caminho envolve mudanças políticas significativas no Ocidente, que levariam líderes ocidentais a pressionar a Ucrânia por um governo alinhado aos interesses de Moscou. Muitos acreditam que essa seja a aposta atual do Kremlin. Ainda assim, mesmo aqueles no Ocidente que defendem negociações não estão inclinados a aceitar uma capitulação ucraniana ou a instalação de um regime fantoche em Kiev.

Diante disso, a estratégia da Rússia para vencer depende de processos fora de seu controle. Assim, Moscou oscila entre a busca por um cessar-fogo e a intensificação do conflito. Um movimento em falso pode gerar grandes riscos, como a necessidade de nova mobilização militar, medidas radicais para manter o controle interno e um possível confronto direto com soldados da Otan. Apesar da aparente confusão gerada pela vitória de Trump, o papel do Ocidente permanece crucial para determinar o futuro da Ucrânia.

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