Tropas da junta militar de Mianmar são acusadas de assassinar 11 pessoas em uma aldeia no noroeste do país, na terça-feira (8). De acordo com uma testemunha, as vítimas, algumas delas adolescentes, teriam sido amarradas e queimadas na rua, relatou reportagem da Associated Press, que classificou o caso como um massacre.
Fotos e um vídeo que viralizaram no país por meio de redes sociais mostram corpos carbonizados deitados em círculo no vilarejo de Done Taw, na região de Sagaing. A ação dos soldados seria uma retaliação a um ataque de rebeldes contra um comboio militar. Uma liderança local da oposição afirmou que os civis foram queimados vivos, evidenciando a brutalidade da repressão à população que tenta resistir ao golpe de Estado orquestrado em fevereiro deste ano.
De acordo com uma testemunha ouvida pela rede norte-americana ABC News, as pessoas capturadas não eram integrantes do movimento de resistência Força de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês), formado por insurgentes armados que frequentemente entra em conflito com o exército.
“Eles prenderam 11 inocentes”, diz o depoente, que se identificou como um fazendeiro e ativista e pediu para ter a identidade preservada.
Segundo o porta-voz da oposição, Dr. Sasa, as vítimas tinham entre 14 e 40 anos. “A pura brutalidade, selvageria e crueldade desses atos mostra uma nova profundidade de depravação e prova que, apesar da pretensão de relativa distensão observada nos últimos meses, a junta nunca teve a intenção de diminuir sua campanha de violência”, acusou Sasa, que faz declarações em nome do Governo de Unidade Nacional paralelo de Mianmar (NUG, da sigla em inglês), nomeado por legisladores eleitos em 2020.
A ONG Human Rights Watch lamentou o destino das vítimas inocentes. “Nossos contatos estão dizendo que eram apenas jovens aldeões que foram pegos no lugar errado e na hora errada”.
O porta-voz da ONU (Organização das Nações Unidas), Stephane Dujarric, manifestou profunda preocupação com os relatos da “morte horrível de 11 pessoas” e condenou veementemente a brutalidade do ato, dizendo que “relatórios confiáveis indicam que cinco crianças estavam entre as vítimas”. O representante da entidade intergovernamental ainda declarou na quarta-feira (8) que, desde o golpe, forças de segurança mataram mais de 1.300 pessoas desarmadas, incluindo mais de 75 crianças.
O governo negou a presença de tropas na área.
Por que isso importa?
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 1252 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.
Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.
O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.