Um barco de pesca vietnamita teria sido alvo de um ataque no Mar da China Meridional, nas proximidades das Ilhas Paracel, território disputado por Beijing e Hanói, resultando em ferimentos para dez tripulantes, de acordo com a mídia estatal do Vietnã na segunda-feira (30). O incidente aconteceu após uma perseguição por navios chineses perto das ilhas que ambos os países disputam, relatou a rede Radio Free Asia.
O capitão do barco, Nguyen Thanh Bien, informou ao jornal Tien Phong que sua embarcação foi perseguida no domingo (29) por dois navios identificados pelos números de casco 101 e 301. Ele explicou que, além disso, três embarcações menores foram enviadas para cercar seu barco em uma manobra de pinça, permitindo que homens em trajes camuflados subissem a bordo e atacassem a tripulação.
“Tentei correr para a frente do navio, mas fui impedido por duas pessoas que me agrediram com tanta força que acabei desmaiando”, relatou Bien. “Recobrei a consciência cerca de uma hora depois”.
O barco vietnamita relatou o ataque via rádio no mesmo dia, informando que três pescadores tiveram fraturas nos braços e nas pernas e outros sete ficaram com ferimentos variados, de acordo com o Tien Phong, que citou uma autoridade local da comuna de Binh Chau, na província de Quang Ngai.
Os guardas de fronteira vietnamitas que conversaram com a tripulação relataram à mídia que a maior parte do equipamento do barco foi destruída e levada, junto com cerca de 4 toneladas de pesca. Estimaram que os danos e a perda de pesca totalizam aproximadamente 500 milhões de dongs vietnamitas (cerca de R$ 110,7 mil).
O arquipélago de Paracel, composto por cerca de 130 ilhas e recifes, está localizado a 400 quilômetros da costa leste do Vietnã e a uma distância semelhante da ilha chinesa de Hainan.
Beijing, que reivindica o controle sobre quase todo o Mar da China Meridional, incluindo as Ilhas Paracel, ainda não comentou o incidente.
Por que isso importa?
Na última década, o Mar da China Meridional tem sido palco de inúmeras disputas territoriais entre a China e outros reclamantes do Sudeste Asiático, bem como de uma disputa geopolítica com os Estados Unidos quanto à liberdade de navegação nas águas contestadas.
Os chineses ampliaram suas reivindicações sobre praticamente todo o Mar da China Meridional e ali ergueram bases insulares em atóis de coral ao longo dos últimos dez anos. Washington deu sua resposta com o envio de navios de guerra à região, no que classifica como “missões de liberdade de operação”.
Embora os EUA não tenham reivindicações territoriais na área, há décadas o governo norte-americano tem enviado navios e aeronaves da Marinha para realizar patrulhas, com o objetivo de promover a navegação livre nas vias marítimas internacionais e no espaço aéreo.
Segundo o comandante dos EUA no Indo-Pacífico, almirante John C. Aquilino, a razão da presença de Washington na região é “prevenir a guerra por meio da dissuasão e promover a paz e a estabilidade, inclusive envolvendo aliados e parceiros americanos em projetos com esse objetivo”.
Já a atuação de Beijing, de acordo com o almirante, é preocupante. “Acho que nos últimos 20 anos testemunhamos o maior acúmulo militar desde a Segunda Guerra Mundial pela República Popular da China”, afirmou. “Eles avançaram todas as suas capacidades, e esse acúmulo de armamento está desestabilizando a região”.