Camboja fecha um de seus últimos meios de comunicação independentes

O fechamento repentino ocorre meses antes das eleições nacionais do país do Sudeste Asiático

O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, decretou no domingo (12) o fechamento de um dos últimos veículos de comunicação independentes remanescentes no país. Organizações de direitos humanos condenaram a decisão, classificada como um ataque politicamente motivado contra a liberdade de imprensa. As informações são da rede Deutsche Welle.

A justificativa dada por Hun foi a de que o The Voice of Democracy (VOD) caluniou intencionalmente ele e seu filho em uma reportagem que abordava a assistência humanitária do país às vítimas do terremoto na Turquia. A medida, que entrou em vigor nesta segunda (13), impede o VOD de transmitir ou publicar notícias em inglês ou khmer (idioma local), disse o primeiro-ministro em um comunicado no Facebook.

Ananth Baliga, editor associado do VOD English, disse que funcionários do Ministério da Informação e da polícia visitaram os escritórios do veículo logo cedo. Ele relatou que agentes apresentaram um documento do órgão governamental, ordenando aos jornalistas que parassem de publicar. Enquanto isso, provedores locais de serviços de internet bloquearam o acesso ao site.

Um artigo publicado na última quarta-feira (8) relatou que o filho do primeiro-ministro, Hun Manet, havia autorizado US$ 100 mil em ajuda à Turquia no lugar de seu pai, observando que a ordem parecia ultrapassar os poderes de seus cargos no governo, que são o de chefe de gabinete e vice-comandante das forças armadas.

Inicialmente, Hun Sen concedeu ao VOD 72 horas para verificar os fatos com o Ministério da Informação e exigiu um pedido público de desculpas.

Hun Sen é um dos ditadores há mais tempo em atividade no mundo (Foto: Samdech Hun Sen, Cambodian Prime Minister/Reprodução Facebook)

Em resposta, o Centro Cambodjano de Mídia Independente (CCIM, da sigla em inglês), ONG que administra o VOD, enviou uma carta ao gabinete do premiê, dizendo que lamentava qualquer confusão que pudesse ter causado e explicou que a organização havia “apenas citado um porta-voz do governo”.

O líder não aceitou a justificativa e, no domingo, ordenou que o ministério revogasse a licença do VOD.

“Comentaristas tentaram atacar a mim e a meu filho Hun Manet”, disse Hun Sen, que está no poder há 38 anos, tornando-o um dos líderes nacionais mais longevos do mundo. Ele acrescentou que o conteúdo jornalístico prejudicou a “dignidade e a reputação” do governo cambojano.

Naly Pilorge, da ONG cambojana de direitos humanos Licadho, disse que foi “mais um dia terrível” para o país.

“Se o VOD for permanentemente fechado, deixará um buraco no cenário da mídia do Camboja, que já foi dizimado por ataques sistemáticos do governo nos últimos anos e enfrenta uma repressão crescente antes das eleições nacionais de julho”, disse ela.

O fechamento repentino ocorre meses antes das eleições nacionais do Camboja.

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