Desnuclearização está fora de cogitação: Coreia do Norte desafia EUA e aliados

Pyongyang reafirma que não desistirá de seu programa nuclear e acusa Washington de provocar tensões na Península Coreana

A Coreia do Norte reiterou sua recusa em abandonar o programa nuclear, responsabilizando os Estados Unidos por “criar tensão” na península coreana. A declaração ocorreu após o presidente norte-americano, Donald Trump, referir-se ao país como uma “potência nuclear”, em um movimento que levantou dúvidas sobre uma possível mudança na política dos EUA. As informações são da Radio Free Asia.

Desde 2006, a Coreia do Norte realizou seis testes nucleares e tem insistido em ser reconhecida como uma potência nuclear. Tanto os Estados Unidos quanto a Coreia do Sul rejeitam esse reconhecimento, mantendo como prioridade a desnuclearização da região.

Em uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre desarmamento realizada na terça-feira (21) em Genebra, Jo Chol Su, representante permanente norte-coreano, defendeu o programa nuclear de Pyongyang como essencial para garantir a paz. “Como um Estado com armas nucleares responsáveis, continuaremos a nos esforçar para prevenir todas as formas de guerra e proteger a paz e a estabilidade”, afirmou. Ele também acusou os EUA de espionagem e provocações militares.

Coreia do Norte exibe dezenas de lançadores móveis de mísseis (Foto: KCNA/divulgação)
Críticas e acusações

Representantes de outros países criticaram duramente as ações do Norte. Kim Il-hoon, representante adjunto da Coreia do Sul na ONU, destacou que a Coreia do Norte violou resoluções do Conselho de Segurança ao fornecer armas e mísseis à Rússia, além de enviar mais de 11 mil soldados para apoiar a guerra na Ucrânia. “A recente captura de dois soldados norte-coreanos é um sinal claro da participação militar do Norte no conflito”, disse Kim.

Segundos relatos de fontes ucranianas e dos EUA, cerca de 12 mil soldados norte-coreanos estão atualmente na região de Kursk, na Rússia. Dois desses soldados foram capturados em janeiro e estão sob custódia em Kiev, onde recebem atendimento médico.

A Coreia do Norte também abandonou oficialmente sua política de reunificação pacífica com a Coreia do Sul, declarando o Sul como “inimigo primário”. “Essa decisão efetivamente removeu qualquer barreira psicológica para um ataque nuclear preventivo contra nosso povo”, alertou Kim.

Rejeições internacionais

O reconhecimento da Coreia do Norte como potência nuclear também foi rejeitado pelo Japão. Yoshimasa Hayashi, secretário-chefe do gabinete japonês, afirmou que os programas nucleares do Norte representam uma ameaça à segurança global. “Não podemos aceitar isso e continuaremos a trabalhar com a comunidade internacional para exigir o desmantelamento completo desses programas”, disse Hayashi.

A Coreia do Sul reiterou sua posição, declarando que reconhecer Pyongyang como um estado nuclear seria incompatível com os esforços de desnuclearização. Os EUA, por sua vez, mantêm a recusa em legitimar o status nuclear do Norte para preservar as normas globais de não proliferação.

Contexto político

A declaração de Trump, feita na segunda-feira, marcou o início de seu segundo mandato como presidente dos EUA. Durante seu primeiro mandato, Trump promoveu negociações inéditas com a Coreia do Norte, mas sem avanços concretos. A agência estatal de notícias norte-coreana cobriu sua posse sem emitir opiniões, limitando-se a relatar os fatos.

O impasse sobre o programa nuclear da Coreia do Norte continua sendo um dos maiores desafios à estabilidade na Ásia e à segurança global. A comunidade internacional permanece dividida sobre como lidar com a crescente militarização e as constantes provocações de Pyongyang.

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