Escritor tibetano é preso pelo governo chinês por debater obra do Dalai Lama

Rongwo Gangkar, autor de obras populares no Tibete, foi levado sob custódia há quase dois anos e tem paradeiro incerto

Rongwo Gangkar, um monge tibetano conhecido por sua obra literária, foi detido pela polícia chinesa sob acusação de “separatismo” após iniciar um debate sobre o Dalai Lama, o líder espiritual exilado do Tibete, durante uma reunião informal com outros escritores. Essa seria a causa do seu desaparecimento desde o início de 2021, segundo informações apuradas pela rede Radio Free Asia.

Gangkar, de 48 anos, é autor de obras populares, como ‘The Knot’ (“O Nó”, em tradução literal) e ‘An Interview With Gendun Choephel‘ (“Uma entrevista com Gendun Choephel“), escrito em colaboração com outros autores. Segundo uma fonte que vive na região, ele foi levado sob custódia quando estava em uma casa de chá na província de Qinghai, no oeste da China.

“Ele estava falando sobre como o aniversário de Sua Santidade e outros eventos importantes relacionados ao Dalai Lama deveriam ser comemorados”, detalhou a fonte, um exilado tibetano com conhecimento sobre o incidente.

O estabelecimento em que Gangkar estava ao ser abordado pelas autoridades, chamado Muthak, fica no condado de Rebgong. Ele já havia promovido outros encontros com a mesma temático no local antes de ser preso.

Rongwo, o mosteiro budista tibetano no condado de Tongren onde Gangkar vivia (Foto: WikiCommons)

“Não sabemos se ele já foi condenado ou não, mas está detido em uma prisão recém-construída no condado de Rebgong”, acrescentou a fonte. A data exata da prisão do monge escritor ainda é desconhecida.

O processo de sinicização do Tibete – torná-lo mais culturalmente chinês – é uma campanha coordenada pelo presidente chinês Xi Jinping. Tal cruzada já resultou na prisão de inúmeras figuras populares, incluindo ativistas que trabalham nos campos da cultura, religião, língua e música tibetanas, sob alegação de que estariam fomentando o “separatismo”.

Por que isso importa?

A ocupação chinesa em uma das regiões mais fechadas e politicamente sensíveis do país começou em 1950, quando as tropas do ELP (Exército de Libertação Popular) invadiram o Tibete e assumiram o controle em um episódio que se convencionou chamar de “libertação pacífica”.

Na ocasião histórica, a artilharia esmagou a resistência tibetana, executou os guardas do líder espiritual e destruiu mosteiros de Lhasa. Diante do cenário de destruição, o 14º Dalai Lama Tenzin Gyatso fugiu para a Índia.

Beijing classifica Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama em exílio na Índia, como um “separatista perigoso”. No lugar dele, foi reconhecido o atual Panchen Lama, instituído pelo partido, como a mais alta figura religiosa do Tibete

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