EUA criticam Tailândia por deportação de 40 uigures para a China

Os EUA condenaram a Tailândia por deportar 40 uigures para a China, alertando sobre risco de tortura. A decisão gerou críticas internacionais, enquanto Beijing nega abusos

Os Estados Unidos condenaram na quinta-feira (27) a decisão da Tailândia de deportar 40 uigures para a China, alertando que os homens podem enfrentar tortura e outras violações de direitos humanos ao serem enviados de volta à região de Xinjiang, de onde fugiram há mais de uma década. A medida também foi amplamente criticada por organizações internacionais e defensores dos direitos humanos. As informações são da Radio Free Asia.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que a deportação contraria compromissos internacionais assumidos pela Tailândia e coloca em risco a integridade dos direitos humanos no país. “Condenamos da forma mais forte possível a deportação forçada de uigures para a China, onde há um histórico de perseguição, trabalho forçado e tortura contra essa minoria étnica”, disse Rubio em comunicado.

A Tailândia mantém laços históricos com os EUA, mas também possui relações próximas com a China, seu maior parceiro comercial e um dos principais investidores estrangeiros no país. A decisão de deportar os uigures, apesar dos apelos internacionais, ressalta a influência de Beijing na região.

Protesto uigur (Foto: WikiCommons)

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, classificou a deportação como uma “clara violação das normas internacionais”, destacando que ela fere o princípio da não repulsão, que impede a devolução de indivíduos a países onde possam ser perseguidos ou torturados.

Grupos de direitos humanos também criticaram a agência da ONU para refugiados, acusando-a de falhar em sua missão de proteger os uigures. O Congresso Mundial Uigur, com sede na Alemanha, declarou que a Tailândia perdeu credibilidade internacional e deve ser responsabilizada pelo ocorrido.

Circunstâncias da deportação

Os 40 uigures estavam detidos desde 2014 no Centro de Detenção de Imigração de Bangkok após fugirem da repressão em Xinjiang. Relatos indicam que a deportação foi realizada de madrugada, com veículos saindo do centro de detenção rumo ao aeroporto Don Mueang, sob forte sigilo e segurança reforçada.

Ativistas relataram que caminhões com janelas cobertas de plástico preto transportaram os deportados, e uma rodovia elevada foi temporariamente bloqueada para impedir o tráfego enquanto os veículos se dirigiam ao aeroporto. Um voo fretado da China Southern Airlines partiu pouco depois, e registros de rastreamento indicaram que a aeronave pousou em Xinjiang.

China nega abusos

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou que a repatriação ocorreu dentro das normas internacionais e que os direitos dos deportados estão sendo respeitados.

“Os direitos e interesses legais dos indivíduos envolvidos são totalmente protegidos”, declarou Lin em coletiva de imprensa. Ele também negou abusos contra os uigures, acusando “forças externas” de espalharem desinformação sobre Xinjiang.

Preocupação internacional

Organizações de direitos humanos alertam que os deportados podem enfrentar penas severas na China, incluindo detenção em campos de reeducação, trabalhos forçados e até execuções. Phil Robertson, da organização Asia Human Rights and Labour Advocates, disse que a Tailândia “cometeu o impensável” ao enviar os uigures de volta, classificando a ação como “uma violação massiva dos direitos humanos”.

Os desdobramentos da deportação devem acirrar as tensões entre Washington e Bangkok, além de intensificar o debate sobre a situação dos uigures e a política externa da Tailândia em relação à China.

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