Ex-general acusado de violar direitos humanos se declara vencedor nas eleições da Indonésia

Pleito é visto como crucial para definir se o país manterá seu desenvolvimento democrático ou retrocederá para o autoritarismo

O ex-general Prabowo Subianto, atual ministro da Defesa na Indonésia, anunciou sua vitória nas eleições presidenciais na quarta-feira (14). As informações são da agência Associated Press.

Subianto foi associado a violações de direitos humanos no passado, sendo impedido de entrar nos Estados Unidos durante duas décadas. O resultado levanta dúvidas sobre o compromisso com os princípios democráticos no país, que é a terceira maior democracia do mundo.

Aos 72 anos, o militar se apresentou como sucessor do popular presidente em exercício, Joko Widodo, cujo filho foi candidato a vice. Com base em resultados não oficiais, Subianto declarou a milhares de apoiadores em Jacarta que sua vitória era “a vitória de todos os indonésios”.

Prabowo Subianto em foto de 2023 durante agenda nos EUA (Foto: U.S. Secretary of Defense/Flickr)

Até o momento, não houve pronunciamento oficial das autoridades eleitorais, e os outros dois ex-governadores provinciais que também concorreram na eleição não reconheceram a derrota.

Contagens não oficiais apontaram que o ex-comandante das forças especiais conquistou a maioria absoluta dos votos, superando os 50% em todo o país e 20% em metade das províncias, evitando assim a necessidade de um segundo turno.

Em Jacarta, os votos foram retirados manualmente das urnas, lidos em voz alta e contados pelos mesários. Esse sistema de apuração é realizado em um país com mais de 200 milhões de eleitores, espalhados por um arquipélago com mais de 17 mil ilhas.

A trabalhosa contagem oficial pode demorar até um mês para ser concluída, mas as contagens rápidas têm sido precisas em retratar os resultados das quatro eleições presidenciais da Indonésia desde 2004, quando o país iniciou o voto direto.

As eleições no país insular se destacaram pelo eleitorado mais jovem da história do país, com mais da metade dos votantes pertencendo às gerações Y ou Z, nascidos após 1980 e 1996, respectivamente.

O próximo presidente, que sucederá Widodo, receberá uma economia em pleno crescimento e projetos de infraestrutura ambiciosos, como a mudança da capital de Jacarta para Bornéu, com um custo estimado em mais de US$ 30 bilhões.

A eleição também apresenta desafios significativos para os Estados Unidos e a China, já que a Indonésia possui um vasto mercado interno, recursos naturais valiosos, como níquel e óleo de palma, e influência diplomática considerável sobre seus vizinhos do Sudeste Asiático.

Analistas afirmam que as eleições representam um momento crucial: elas podem determinar se o país continuará sua trajetória de desenvolvimento econômico e reforma política, ou se voltará aos tempos de política autoritária de uma geração atrás.

Currículo violento

Nos tempos de militar, Subianto foi acusado de violações dos direitos humanos durante o regime do ditador Hadji Mohamed Suharto, que chegou ao poder após um golpe militar em 1965 e liderou o país por mais de três décadas.

Em 1998, o então general foi demitido do Exército por sua suposta participação em raptos e desaparecimentos forçados de ativistas políticos. Além disso, sua ligação com casos de tortura, corrupção e abusos de poder também foi sugerida ao longo dos anos.

Os Estados Unidos baniram Prabowo de entrar no país em 2020 devido a supostos às denúncias. No entanto, o governo do ex-presidente Donald Trump mudou tal política e o recebeu em Washington.

Após o pleito, Subianto pediu “humildade e união” em seu discurso transmitido nacionalmente de um estádio esportivo, dizendo que a vitória deve ser compartilhada por todo o povo indonésio.

“Não devemos ser arrogantes. Não deveríamos estar orgulhosos. Não devemos ficar eufóricos. Ainda temos que ser humildes. Esta vitória deve ser uma vitória para todo o povo indonésio”, disse o ex-comandante.

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