Operários do sudeste asiático são vítimas de abusos trabalhistas em novo surto de Covid-19

Falta de direitos aprofunda vulnerabilidade dos trabalhadores de fábricas à medida que a demanda aumenta

O surto de Covid-19 no sudeste asiático tem gerado casos extremos de abusos trabalhistas. As vítimas são operários das centenas de fábricas de manufatura da região, reportou o “The Guardian”.

Um dos casos relatados pelo periódico teria ocorrido na fábrica de Cal-Comp, em Phetchaburi, na região central da Tailândia, na última quinzena de maio. Sob o argumento de que houve contaminação em massa pelo vírus, os trabalhadores foram colocados em quarentena dentro da própria fábrica.

Reunidos num amplo espaço quem em pouco tempo ficou cheio, os funcionários receberam lençóis, cortinas mosquiteiras e um balde para fazer suas necessidades. Instalados sobre uma grande lona que cobria o chão, eles tinham ventiladores para amenizar o calor e acesso limitado a água e comida. Um operário relata ter ficado no local por 14 dias com a mesma roupa.

Operários de fábricas do sudeste asiático enfrentam descaso trabalhista em novo surto de Covid-19
Fábrica da Cal-Comp na Tailândia, sem data divulgada (Foto: Reprodução/Cal-Comp Website)

Na última sexta (11), mais de 800 trabalhadores da fábrica de luvas WRP testaram positivo para Covid-19. Na Tailândia, operários de mais de 130 fábricas se infectaram – incluindo a Charoen Pokphand Foods, maior agrícola do país.

A quase total falta de direitos aprofunda a vulnerabilidade desses trabalhadores. “Eles não têm sindicatos ou representantes para negociar o que os empregadores devem fazer por eles”, disse Suthasinee Kaewleklai, coordenadora da Rede de Direitos dos Trabalhadores Migrantes na Tailândia.

Segundo ela, as condições na fábrica da Cal-Comp são tão ruins que operários já protestaram contra a falta de eletricidade e alimentos. Houve uma ligeira melhora desde então.

Além disso, a configuração das linhas de produção não ajuda na prevenção do vírus. Assim, funcionários dos grupos de risco precisam ficar em casa, e o único benefício deles é uma cesta básica de arroz e peixe enlatado. “É apenas para sobreviver”, disse um migrante do Camboja que trabalha na Cal-Comp.

Produção maior

Aqueles que continuam trabalhando não conseguem se afastar do vírus. “Mesmo que consigam permanecer distantes uns dos outros dentro da fábrica, ficam amontoados nas longas viagens diárias em caminhões”, relatou outro funcionário.

Enquanto o sudeste asiático enfrenta variantes mais contagiosas, países que dependem da manufatura, como Malásia, Vietnã e Camboja, têm suas fábricas funcionando a pleno vapor. A demanda por equipamentos de tecnologia, luvas médicas e atum em lata é cada vez maior, principalmente por parte de países europeus.

O surto nas fábricas já fez com que o Vietnã, que chegou a erradicar o vírus no ano passado, visse seu total de casos triplicar desde o início de maio. Na Malásia, forçada a instituir um novo lockdown, o setor manufatureiro foi autorizado a continuar o trabalho, mesmo diante de uma forte onda de Covid-19.

Já o surto do Camboja, que começou em abril e gerou um lockdown em vários setores, pressionou ainda mais os trabalhadores. As leis do país não exigem que empregadores paguem o salário integral durante a paralisação, e milhares de operários de 120 fábricas ficaram sem pagamento.

A fábrica Cal-Comp não respondeu aos pedidos de comentário do jornal britânico.

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