Pai de mulher que manchou cartaz de Xi Jinping morre misteriosamente na prisão

Dong Yaoqiong jogou tinta em um cartaz de Xi Jinping em 2018 e foi enviada a uma clínica psiquiátrica. O pai dela, Dong Jianbiao, defendeu sua libertação e foi condenado a três anos de prisão

O pai de uma mulher internada compulsoriamente em um hospital psiquiátrico, após manchar um cartaz com a imagem do presidente da China, Xi Jinping, morreu repentinamente sob custódia na última sexta-feira (23). Dong Yaoqiong chamou a atenção do mundo em 2018 depois de espirrar tinta em um material de propaganda do líder chinês durante um protesto transmitido no Twitter. As informações são da rede Radio Free Asia.

A ativista, uma ex-agente imobiliária de Xangai, só foi libertada recentemente depois de ser submetida a “tratamento compulsório” em um hospital psiquiátrico, onde permaneceu por mais de um ano.

Já seu pai, Dong Jianbiao, foi detido pela polícia local quando tentou visitar a filha, segundo o site de direitos humanos Weiquanwang, de acordo com informações divulgadas pelo ativista Chen Siming. Ele acrescentou que, ao identificá-lo no necrotério, familiares de Dong constataram que o corpo tinha diversos ferimentos.

Dong Jianbiao (dir;) pediu ajuda para sua filha Dong Yaoqiong com apoio do amigo e artista Hua Yong (Foto: Hua Yong/Reprodução Twitter)

Chen também foi detido após contar às pessoas sobre a morte de Dong, segundo o Weiquanwang. Ele está incomunicável desde então.

O funeral de Dong ocorreu em sua cidade natal, Taoshui, em Hunan, na segunda-feira (26), disse um primo da vítima, acrescentando que a cerimônia foi restrita ao círculo íntimo por ordem das autoridades. “Eles não estão deixando ninguém passar”, detalhou. “Apenas membros da família e moradores locais do nosso grupo étnico têm permissão”.

Violência ou comorbidade?

Dong repetidamente exigiu que a polícia explicasse qual crime sua filha havia cometido e revelasse onde ela estava detida. Ele foi condenado a três anos de prisão por ameaçar incendiar a casa de sua ex-mulher em 2021, acusação que surgiu após sua filha ser enviada ao hospital psiquiátrico, segundo relatos da mídia.

A nota oficial das autoridades diz que Dong morreu no cárcere em consequência de uma doença pré-existente. A família, no entanto, questiona as supostas marcas de violência no corpo da vítima.

“Houve ferimentos de espancamento por todo o corpo, sangue em seu ânus e seus olhos não estavam fechados”, disse o primo. “As autoridades disseram que era devido ao diabetes”, acrescentou.

Sem consentimento da família, o corpo de Dong foi enviado para cremação no dia seguinte pelas autoridades. “Nós recusamos a permissão para a cremação, mas eles fizeram mesmo assim”, disseram eles. “Não havia nada que pudéssemos fazer. Como vamos suportar algo assim?”.

O artista dissidente Hua Yong, amigo de Dong, desconfia que há mais coisas por trás da morte do que diabetes.

“Ele era uma pessoa muito forte e teimosa, mas também corajosa e otimista, então podemos definitivamente descartar a possibilidade de suicídio”, disse ele. “Dado que ele estava sozinho em uma prisão com segurança muito apertada, ele deve ter sido espancado até a morte”, conjectura.

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