Produtos indianos feitos com petróleo russo têm os EUA como grande comprador

Apesar disso, Washington dobrou tarifas sobre produtos indianos, alegando punição por compras de petróleo russo com desconto e exportação de derivados para o mundo

Os Estados Unidos são um dos maiores importadores de produtos indianos derivados de petróleo russo, e essa dependência acabou gerando atrito político e econômico. O governo americano dobrou tarifas sobre diversos produtos indianos, chegando a 50%, em uma medida que Washington justifica como punição à Índia por se tornar um grande comprador de petróleo russo com desconto e exportar derivados globalmente. As informações são da NPR.

Embora a Índia seja historicamente vista como aliada estratégica na Ásia e contraponto à China, seus produtos agora enfrentam alguns dos impostos de importação mais altos do mundo.

Refinaria de petróleo da Reliance Industries em Jamnagar, estado de Gujarat, Índia (Foto: WikiCommons)

O governo americano, sob Trump, justifica a ação afirmando que a Índia se beneficia da guerra na Ucrânia ao comprar petróleo russo com desconto e exportar derivados para o mundo, incluindo os próprios EUA. Dados do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA) indicam que, entre janeiro e julho deste ano, os Estados Unidos compraram cerca de US$ 1,4 bilhão em produtos petrolíferos da Índia, com mais de 90% provenientes da refinaria Reliance Industries, controlada por Mukesh Ambani, homem mais rico da Ásia.

“Isso significa que os EUA estão comprando combustível produzido direta ou indiretamente a partir de petróleo russo”, explicou Isaac Levi, pesquisador do CREA. A União Europeia (UE) já proibiu a importação de petróleo russo, mas os Estados Unidos não haviam adotado medidas semelhantes, até agora.

Peter Navarro, assessor comercial da Casa Branca, acusou publicamente o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, de financiar a “máquina de guerra” do Kremlin, chegando a chamar o conflito Rússia-Ucrânia de “guerra de Modi”.

Apesar da pressão, a Índia resiste. O ministro das Relações Exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar, questionou a decisão americana, lembrando que outros parceiros comerciais, como a China, compram volumes maiores de petróleo russo sem sofrer penalidades. Nos últimos meses, as importações indianas da Rússia caíram parcialmente, mas especialistas alertam que o país dificilmente conseguirá eliminar completamente esses fluxos, devido à dependência de contratos de longo prazo e à escassez de fornecedores alternativos.

Além do impacto energético, as tarifas americanas atingem setores intensivos em mão de obra, como têxteis, joias, frutos do mar e automóveis. Produtos como medicamentos e eletrônicos têm isenção, mas camarões, roupas e especiarias terão preços mais altos nos Estados Unidos. Segundo Ajay Srivastava, da Iniciativa de Pesquisa de Comércio Global, o efeito mais duradouro pode ser político: a medida americana coloca em risco décadas de boa vontade entre os dois países e envia à nova geração indiana uma mensagem clara de que não se pode confiar nos EUA.

Enquanto a tensão cresce, a Índia mantém diálogo limitado com a China e reforça sua postura de buscar “o melhor negócio” no mercado internacional, mesmo que isso signifique desagradar a Washington.

Tags: