O Paquistão reforçou sua dependência da China como principal fornecedor de armamentos, com as compras chinesas representando 81% de suas importações de defesa entre 2020 e 2024. O percentual representa um aumento de sete pontos percentuais em relação ao período anterior, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) reproduzidos pelo jornal South China Morning Post.
A intensificação da cooperação militar ocorre em meio a uma estratégia chinesa de fortalecimento da indústria bélica própria e de expansão da influência geopolítica em relação aos EUA. Atualmente, o Paquistão é o maior comprador de armas chinesas, respondendo por 63% das exportações do setor na China, com um volume comercial de US$ 5,28 bilhões nos últimos cinco anos. A parceria supera de forma expressiva os outros principais compradores, como Sérvia (6,8%) e Tailândia (4,6%).

Entre os sistemas adquiridos recentemente por Islamabad estão drones de reconhecimento de longo alcance, fragatas Type 054A e sistemas de defesa aérea HQ-9. Em 2022, o Paquistão também recebeu o primeiro lote dos caças multifunção J-10CE, somando-se à frota de JF-17, desenvolvido em conjunto pelos dois países desde 1999. A versão mais recente, JF-17 Block III, equipada com radar de varredura eletrônica ativa, foi incorporada à Força Aérea Paquistanesa em 2023.
Para especialistas, a aproximação entre China e Paquistão reflete a crescente rivalidade geopolítica na região que envolve não apenas os EUA, mas também a Índia. “A aparente disposição da China em fornecer ou discutir o fornecimento de seus armamentos mais avançados ao Paquistão demonstra confiança na parceria”, afirmou Siemon Wezeman, pesquisador sênior do SIPRI.
A expansão militar paquistanesa também se manifesta no mar. Em 2023, a China entregou o primeiro dos oito submarinos Hangor II encomendados pelo Paquistão em um acordo de US$ 5 bilhões. O projeto fortalece a presença naval do Paquistão no Oceano Índico, região estratégica também de interesse de Beijing.
A transferência de tecnologia também abre espaço para que Islamabad obtenha caças de quinta geração, como o J-35 chinês. “Se o Paquistão solicitar, a China pode exportá-lo”, disse o analista militar Song Zhongping. A possibilidade ganha força diante das intenções indianas de adquirir aeronaves F-35 dos Estados Unidos ou Su-57 da Rússia.
Nos últimos anos, os Estados Unidos reduziram significativamente a venda de armas ao Paquistão, citando preocupações com seu programa nuclear e sua política de combate ao Taleban. Como resultado, as fronteiras na Ásia se tornam mais demarcadas entre o bloco de alianças centrado na China e o campo adversário, que inclui EUA e Índia. “A formação desses blocos pode tornar a região ainda mais volátil”, alertou Wezeman.