A Rússia estaria mobilizando recursos significativos para trazer até cem mil soldados norte-coreanos ao seu território, em um controverso acordo que gerou preocupações internacionais. Analistas especializados na fechada nação afirmam, porém, que os militares enviados provavelmente não receberão os valores prometidos, com os recursos indo parar nas mãos do ditador Kim Jong-un e da sua elite governamental. As informações são do Business Insider.
Estima-se que a Coreia do Norte tenha mobilizado cerca de 11 mil soldados para apoiar a Rússia, com oito mil desses combatentes posicionados na região de Kursk. Apesar de pertencerem à elite militar do país, conhecidos como “Boinas Negras”, especialistas avaliam que os soldados enviados não representam os melhores efetivos do regime de Kim. O número, segundo Dmytro Ponomarenko, embaixador da Ucrânia na Coreia do Sul, pode crescer para 15 mil nos próximos meses.
“Esperamos um aumento gradual, com novos contingentes sendo enviados a cada dois ou três meses. Em um ano, o número pode atingir 100 mil”, afirmou o diplomata à Voice of America.
As informações coincidem com avaliações de inteligência de países do G20, reportadas pela Bloomberg, que sugerem o mesmo potencial de escalada no número de tropas.
Implicações financeiras e estratégicas
Relatórios da inteligência sul-coreana indicam que a Rússia estaria pagando aproximadamente US$ 2.000 (cerca de R$ 11,5 mil) por mês por soldado. Se confirmada, a presença dos 11 mil militares já em solo russo implicaria um custo de US$ 22 milhões mensais — valor que pode se multiplicar à medida que mais tropas sejam enviadas.
Contudo, a realidade para os soldados norte-coreanos pode ser bem diferente. Desertores do regime de Kim relatam que os salários médios no país não chegam a US$ 1 por mês. Assim, mesmo uma fração dos valores pagos pela Rússia representaria uma mudança drástica na vida dos combatentes. “É improvável que esses pagamentos cheguem diretamente aos soldados. Na prática, os valores devem ser apropriados pelo governo norte-coreano”, apontou um especialista em regimes autoritários ouvido pela Associated Press.
A unidade de elite dos “Boinas Negras” é formada por tropas de elite conhecidas por realizar missões de alto risco, incluindo sequestros e assassinatos de desertores e agentes estrangeiros. Apesar de sua reputação, os soldados enviados à Rússia parecem ser uma linha de frente composta por recrutas menos experientes, usados como teste inicial para futuras operações mais elaboradas.
Contexto político e riscos
A cooperação entre Moscou e Pyongyang reflete um aprofundamento de suas alianças em meio ao isolamento internacional enfrentado por ambos os países. Para a Coreia do Norte, o acordo pode fornecer uma fonte importante de recursos para sustentar o regime de Kim, ao mesmo tempo que ajuda a Rússia a reforçar suas operações em face de desafios militares crescentes.
No entanto, a mobilização de soldados estrangeiros em larga escala levanta questões sobre os riscos humanitários, políticos e logísticos de tal iniciativa.
Bruce Bennett, especialista em defesa e na Coreia do Norte da organização de pesquisa e análise sem fins lucrativos RAND, afirmou ao Business Insider que acredita que os fundos enviados pela Rússia estão sendo direcionados diretamente para o Partido dos Trabalhadores e, eventualmente, para a família Kim. Segundo Bennett, essa conclusão é provisória, baseada na estrutura e nas práticas passadas do regime norte-coreano. Ele também ressaltou que o governo da Coreia do Norte tem histórico de reter os rendimentos de seus cidadãos no exterior, sugerindo que uma pequena quantia, ou até nada, chegue aos soldados norte-coreanos.