Nos confins da Rússia, ausência do Estado abre espaço para oligarcas

Magnatas abrem e fecham cidades e providenciam hospitais de campanha para infectados pelo novo coronavírus

No Ártico e no extremo oriente russo, habitantes de cidades pequenas e médias dependentes de uma só empresa agora testemunham os oligarcas, donos desses empreendimentos, tomando à frente na resposta à pandemia.

Em reportagem da última quarta (14), o jornal norte-americano “The New York Times” enumerou casos de oligarcas que chamaram para si, na ausência do Estado russo nos confins do país, as decisões sobre a contenção do novo coronavírus.

Dono de fábricas de fertilizantes, Andrei Guryev fechou quase sozinho duas cidades árticas de 80 mil habitantes. O magnata também era dono do aeroporto e de um resort de esqui na região, o que facilitou o veredito.

Fechamos ambos, a decisão era somente nossa”, explicou.

Nos confins da Rússia, ausência do Estado abre espaço para oligarcas
O vilarejo de Teriberka, na região de Kola, na Rússia (Foto: Ninara/Flickr)

Os donos das cidades

Aleksei Mordashov, do setor de aço, pediu pessoalmente a quatro governadores regionais que fechassem as cidades onde operam suas plantas industriais.

Oleg Deripaska construiu três hospitais de campanha na Sibéria com 160 leitos cada. Gennady Timchenko, próximo de Putin, vai empregar US$ 17 milhões na compra de ventiladores, equipamentos de proteção e tomógrafos.

Já Vladimir Potanin, considerado o homem mais rico da Rússia, separou US$ 150 milhões para auxiliar no combate ao vírus.

Esses oligarcas, gerados na explosão econômica após a queda do comunismo, compravam as antigas estatais a preço de banana, tornando-se bilionários. Controlam os mais variados setores – siderurgia e petroquímica são alguns deles.

Poderosíssimos durante o governo Ielstin (1991-1999), os oligarcas viram sua influência diminuir nos sucessivos mandatos de Vladimir Putin. Hoje, são “fantasticamente ricas famílias, dependentes da benevolência do Kremlin”, como definiu o diário nova-iorquino.

A proatividade desses figurões evidenciaria as fraquezas do Estado russo e a dependência de Putin, ainda que menor na comparação com seu antecessor, de “alianças informais com poderosos magnatas.”

Para uma das porta-vozes consultadas pela reportagem, essas empresas seriam “responsáveis pela estabilidade social das regiões onde [estão] presentes”.

Cerca de 10% dos russos moram em cidades que dependem de uma única empresa, sobretudo nas regiões mais afastadas de Moscou.

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