Política no Sri Lanka vira disputa de Índia e China em pleito desta quarta

China tem ganhado acesso à ilha no Índico, de localização estratégica e laços históricos e culturais com Nova Délhi

As eleições legislativas no Sri Lanka, nesta quarta (5), foram o teste de fogo para a dinastia Rajapaksa, que controla a política local. Números preliminares dão vitória garantida ao SLPP (Sri Lanka Podujana Peramuna), partido controlado pela família.

Um dos primeiros líderes a parabenizar os irmãos Mahinda, ex-presidente e atual premiê e ministro das Finanças, e o atual presidente, Gotabaya, foi o premiê indiano Narendra Modi.

Mahinda Rajapaksa, ex-presidente e atual primeiro-ministro do Sri Lanka, na Assembleia-Geral da ONU de 2014 (Foto: UN Photo/Yubi Hoffmann)

A manifestação carrega, acima de tudo, interesses geopolíticos: pelas águas singalesas passa cerca de 80% da energia que chega de outros países à Índia e à China, de acordo com o Departamento de Defesa dos EUA. Por ali também circula metade dos carregamentos mundiais de petróleo.

Beijing também disputa seu espaço junto às elites que dominam a política na capital, Colombo. Em 2000, as importações chinesas eram apenas 3,5% do total que chegava nos portos de entrada locais.

Apenas 17 anos depois, já chegavam a um quarto do total e ultrapassara a Índia, histórica parceira comercial com quem o Sri Lanka compartilha laços étnicos e culturais, segundo o portal “The Diplomat“.

A ilha no Oceano Índico tornou-se então palco de uma queda de braço entre as duas potências asiáticas. Os Rajapaksa têm sido cada vez mais receptivos às investidas chinesas. Entre elas, polpudos empréstimos e investimentos em infraestrutura, que vão de aeroportos e portos a estradas.

Clã Rajapaksa

O clã governou a ilha, ao sul da Índia, por uma década entre 2005 e 2015. Perderam as eleições por pouco para a oposição, que também não resolveu o terrorismo e a recessão que continuam a varrer o país.

Na época, Rajapaksa acusou a Índia de interferência no pleito, como reportou na época a Reuters. A China acompanhou de perto a eleição, inclusive com pesquisas de intenção de voto encomendas por Beijing, de acordo com reportagem de 2015 da agência japonesa Nikkei.

Em novembro de 2019, o SLPP retomou a Presidência após a vitória de Gotabaya Rajapaksa, conhecido como “exterminador”. O novo mandatário colocou então seu irmão Mahinda no controle da minoria no Parlamento.

O apelo do SLPP junto à população vem do fato de que a família é creditada pelo fim da guerra civil no país, que durou 30 anos.

Gotabaya já se referiu ao resultado como uma “grande vitória”, com cerca de 60% dos votos para sua agremiação, informou o jornal indiano “Indian Express”.

Dentro do conflito sectário, o partido dos Rajapaksa representa os budistas-singaleses, etnia originária da ilha. Também há significativa população tâmil, hinduísta e de origem indiana, e muçulmana.

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