Autoridade ucraniana diz que não havia prisioneiros de guerra em avião russo que caiu

Secretário de Estado diz que imagens não apresentam indícios de que 74 pessoas tenham morrido no IL-76 das forças de Moscou

Não havia prisioneiros de guerra ucranianos no avião modelo IL-76, da Força Aérea da Rússia, que caiu na região russa de Belgorod em 24 de janeiro. A afirmação foi feita pelo o secretário do Conselho de Segurança Nacional da Ucrânia, Oleksiy Danilov, em entrevista publicada nesta sexta-feira (9) pelo site local Babel.

“Se nossos prisioneiros estavam lá? Posso garantir que não”, afirmou Danilov. “Se isso realmente tivesse acontecido, a quantidade de material biológico, o que se chama, digamos, de corpos, seria significativa.”

Ele chegou a tal conclusão com base em imagens do local da queda de circularam nas redes sociais e em sites jornalísticos locais. Inclusive, fotos e vídeos divulgados pela própria mídia estatal russa mostram alguns corpos nos destroços, mas não indicam que ali havia dezenas de cadáveres

Avião da Força Aérea da Rússia Ilyushin IL-76MD, semelhante ao que caiu em Belgorod (Foto : Fyodor Leukhin/WikiCommons)

Danilov também citou a máquina de propaganda russa como prova de que os prisioneiros não estavam no avião. Segundo ele, caso essa fosse a verdade, Moscou usaria as imagens para comprovar sua posição.

“Se isso acontecesse, acredite, Lavrov (ministro das Relações Exteriores russo) teria usado isso na ONU (Organização das Nações Unidas), teria mostrado tudo isso. Eles não têm nada para mostrar, porque se acontecesse na realidade seria um quadro completamente diferente.”

A afirmação da autoridade ucraniana contraria a versão russa, segundo a qual a queda do avião matou 74 pessoas, sendo seis tripulantes e três militares, todos russos, além de 65 prisioneiros de guerra ucranianos que seriam incluídos em uma troca com a Ucrânia. 

A queda do IL-76 chegou a ser debatida até no Conselho de Segurança da ONU em discurso de Sergei Lavrov, daí a afirmação do secretario ucraniano. Questionado por jornalistas sobre o ocorrido, o ministro russo classificou a queda do avião como “ataque terrorista” da Ucrânia, reforçou a teoria sobre os prisioneiros de guerra sendo transportados e disse que Kiev “deveria ter conhecimento” do fato.

Kiev não admite nem nega que tenha sido responsável pela derrubada do avião. Segundo Moscou, o que abateu o IL-76 foi um míssil norte-americano do sistema de defesa antiaérea Patriot, fornecido às forças ucranianas para enfrentar os bombardeios russos.

Do lado ucraniano, veio inclusive a sugestão de que os próprios russos tenham derrubado a aeronave para incriminar Kiev. O jornal The Moscow Times afirma que essa versão foi sugerida pelo porta-voz da inteligência militar da Ucrânia, Andriy Yusov. Segundo ele, autoridades do FSB (Serviço de Segurança Federal) da Rússia foram impedidas de embarcar no voo apenas minutos antes da decolagem.

A inteligência de Kiev disse também, dois dias depois da queda, que somente cinco corpos chegaram ao necrotério de Belgorod, segundo a rede CNN. Tal informação, que carece de verificação independente, serviria para desmentir a alegação russa e justificar a ucraniana, segundo a qual a aeronave transportava mísseis S-300.

A única informação com a qual os dois governos concordam é a de que haveria realmente uma troca de prisioneiros no dia da queda. De um lado, a Rússia diz que avisou sobre a presença dos prisioneiros no voo cerca de 15 minutos antes, tempo suficiente para evitar um ataque. A Ucrânia nega ter recebido o alerta e diz que tem sido comum o uso de aviões IL-76 para o transporte de mísseis, que são geralmente carregados nas aeronaves justamente em Belgorod.

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