Bolsa de Teerã, no Irã, vive valorização que pode acabar em bolha

Retorno de 197% atrai pequenos investidores, que fogem da inflação alta e dos efeitos das sanções dos EUA

O mercado de capitais no Irã vive um bom momento que pode terminar em bolha especulativa. O índice Tedpix, da Bolsa de Teerã, cresceu dez vezes nos últimos dois anos, na moeda local, e dobrou desde o início do lockdown no país, em 27 de março. As informações são da “The Economist“.

Já o giro financeiro subiu do equivalente a US$ 100 milhões para US$ 400 milhões por dia. De acordo com dados do governo iraniano, o retorno anual da bolsa local foi de 197% – considerando o ano fiscal no país, que começa e termina em março.

Segundo a revista britânica “The Economist”, a preferência dos iranianos pela renda variável é conjuntural. Com a inflação passando de 30% ao ano e o rial iraniano cada vez mais desvalorizado, as pessoas não veem razão em guardar dinheiro nas tradicionais poupanças.

Carros e terrenos são muito caros no país, o que também serve de incentivo para escolher alternativas menos ortodoxas de manter e ganhar algum dinheiro.

No Irã, desemprego é alto, na faixa de 10% w a taxa de juros é de cerca de 12,8%. O país perdeu boa parte da renda vinda do petróleo com a deterioração das relações com os EUA.

Em abril deste ano, passou a ser permitido negociar as chamadas “ações de justiça”. Esses papéis vem de estatais de capital aberto e são oferecidos pelo governo a pessoas pobres.

Sanções dos EUA não têm intimidado investidores na Bolsa de Teerã
Vista de Teerã, capital do Irã (Foto: Ninara/Flickr)

Um dos únicos especialistas na Bolsa de Teerã, Maciej Wojtal e falou à Bloomberg (em inglês) sobre os riscos geopolíticos e os problemas relacionados às sanções ocidentais.

O especialista relata dificuldade de conseguir informações confiáveis em seu dia a dia comandando uma das únicas gestora de ativos europeia que opera no país.

Perigos do investidor

Mesmo com o otimismo do presidente Hassan Rohani, que “vê o boom como uma questão de orgulho nacional”, há quem defenda que há uma bolha no mercado iraniano. Wojtal, explica a semanal britânica, “vendeu metade de suas propriedades [no Irã] em março”.

O economista iraniano Fereydoun Khavand alertou, em artigo ao braço iraniano da Radio Free Europe, que o mercado local é “perigoso”. Para o especialista, muitos pequenos investidores podem terminar o boom sem suas economias.

Entre as principais empresas que negociam na bolsa iraniana estão organizações dos setores de petroquímica e mineração, que exportam boa parte da produção. Além de receberem em divisas estrangeiras, não dependem de uma economia que encolhe desde 2018.

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