Apoiadores do Kremlin admitem sucesso de ataque ucraniano com sistema dos EUA: ‘Trágico’

Mísseis disparados pelo Himars teriam atingido um grupamento das forças de Moscou, matando pelo menos 65 combatentes

Um ataque das Forças Armadas da Ucrânia com mísseis disparados pelo sistema Himars, fornecido pelos EUA, teria causado a morte de ao menos 65 soldados russos na terça-feira (20). O sucesso da ação foi anunciado por Kiev e confirmado por um governador apontado pelo Kremlin. Um blogueiro russo pró-Moscou também comentou o ocorrido, que chamou de “evento trágico.”

Sergey Bratchuk, porta-voz da administração militar da região de Odessa, disse que dois mísseis foram usados no ataque e atingiram militares russos da 39ª Brigada de Fuzileiros Motorizados, de acordo com a revista Newsweek. Através do aplicativo de mensagens Telegram, ele postou vídeos que mostram o que seriam dezenas de corpos de soldados mortos.

A informação não foi ratificada oficialmente pela Rússia, que não fornece dados sobre baixas na guerra, mas blogueiros militares pró-Moscou comentaram o ocorrido. Um deles, que se identifica como Rybar e tem mais de um milhão de seguidores, classificou o ataque ucraniano como um “evento trágico”, mas não fez referência ao número de mortos.

Sistema de Artilharia de Foguetes de Alta Mobilidade (Himars, na sigla em inglês) (Foto: WikiCommons)

Rybar ainda contestou a estratégia militar russa, dizendo que as forças de Kiev aproveitam momentos em que há “pessoas aglomeradas” para realizar seus ataques. Assim, os grandes grupos de soldados tornam-se um alvo fácil para as “munições de alta precisão” ucranianas. “Espero que sejam tiradas conclusões”, acrescentou ele.

O ataque ocorreu na vila de Trudivske, na região de Donetsk, uma área controlada pela Rússia desde o conflito separatista de 2014. O sistema móvel de disparos Himars, que vem sendo usado por Kiev desde meados de 2022, tem alcance de até 300 quilômetros e é fundamental na campanha militar ucraniana.

A rede BBC, na sua versão em russo, divulgou informação semelhante, que diz ter obtido com fontes familiarizadas com os fatos. Alega que há ao menos 60 mortos e que o ataque atingiu a 36ª Brigada de Fuzileiros Motorizados, não a 39ª. E acrescenta que os militares atingidos estavam reunidos à espera de um general que faria um pronunciamento às tropas.

Alexander Osipov, governador apontado pela Rússia para a região, disse que enviou autoridades ao local do ataque para prestar assistência aos sobreviventes e aos familiares das vítimas. No entanto, classificou os relatos sobre as baixas como “não confiáveis ​​​​e muito exagerados.”

“Dirijo-me aos familiares e amigos dos militares da 36ª Brigada de Fuzileiros Motorizados. Ao longo desta e das próximas 24 horas, forneceremos diretamente a cada família informações completas e confiáveis ​​sobre o destino dos combatentes. Ninguém ficará sem ajuda e apoio”, afirmou o governador.

Mais de 45 mil mortos

O mais recente sucesso militar anunciado por Kiev surge no momento em que se confirmam as mortes de 45.123 soldados russos desde o início do conflito. O número é fruto de uma investigação conduzida em parceria pelo site Mediazona e pela BBC, que atualizou a contagem na terça.

Para obter tais dados, os investigadores fazem uso de informações publicamente disponíveis, como documentos oficiais, manifestações de familiares em redes sociais e publicações da imprensa regional. Como são incluídos na conta apenas militares cujas identidades foram confirmadas, os autores alertam que “o número real de mortos é provavelmente significativamente maior.”

Outras estimativas, tanto do governo ucraniano como do próprio Mediazona, indicam que a lista de mortes confirmadas de fato não condiz com a dura realidade do campo de batalhas. Calcula-se que centenas de milhares de soldados perderam a vida ou se feriram gravemente, mas a falta de informações fornecidas por Moscou prejudica a apuração.

Em julho de 2023, o Mediazona fez uma projeção com base no conceito de “mortalidade excessiva”, que se popularizou durante a pandemia de Covid-19. Os pesquisadores acessaram dados oficiais disponíveis para consultas públicas, como atestados de óbito e ações judiciais de inventário, e calcularam quantos homens russos de até 50 anos morreram entre fevereiro de 2022, quando começou a guerra, e 27 de maio de 2023. E compararam com a média do mesmo período em anos anteriores.

A partir dessa análise, concluíram que aproximadamente 47 mil russos haviam morrido “em excesso” até maio de 2023, atribuindo tal diferença à guerra. O limite de idade foi adotado porque é o mesmo imposto pelas Forças Armadas para soldados rasos e oficiais abaixo do posto de coronel. Ou seja, só vão ao campo de batalhas homens com menos de 50 anos.

Em seu perfil na rede social X, antigo Twitter, o Ministério da Defesa da Ucrânia alegou nesta quarta-feira (21) que a Rússia já perdeu 406.080 soldados, entre mortos e feridos. Tais dados, entretanto, carecem de confirmação independente.

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