Ataques ucranianos no Mar Negro viabilizariam exportação de grãos, dizem analistas

Especialistas sugerem que intenção de Kiev é destruir sistemas de inteligência de Moscou que monitoram a navegação

No dia 20 de junho de 2022, uma plataforma móvel russa de extração de gás natural no Mar Negro foi atingida por um míssil ucraniano. O ataque causou um grande incêndio, deixou três feridos e sete desaparecidos, segundo autoridades da Crimeia, região ocupada pela Rússia que faz uso do combustível fornecido pela plataforma. De acordo com especialistas, a ação da Ucrânia pode ser estratégica, com a finalidade de viabilizar a exportação de grãos bloqueada por Moscou. As informações são da rede Radio Free Europe.

O bombardeio de 20 de junho foi ao menos a terceira operação militar de Kiev no Mar Negro em alguns dias. Inicialmente, acreditava-se que a intenção era apenas prejudicar o fornecimento de gás à Crimeia. Porém, Moscou usa plataformas, tanto fixas quanto móveis, para instalar equipamentos de inteligência e monitorar a navegação. Assim, a destruição delas facilitaria a passagem de navios de carga ucranianos.

A Ucrânia é um dos maiores exportadores de trigo do mundo, e desde o início da guerra o Ocidente acusa a Rússia de bloquear a saída de navios que transportariam a produção, uma importante fonte de renda para os ucranianos. A Ilha da Cobra, capturada pelos russos no início da guerra, também foi atacada, o que fortalece a teoria.

De acordo com o especialista militar Glen Howard, presidente da Fundação Jamestown, em Washington, o ataque à plataforma de gás “deve ser visto à luz dos ataques à Ilha da Cobra para impedir que os russos a transformem em uma zona de negação de área”.

Howard explicou a teoria: “Se os navios de grãos puderem sair de Odesa, esses esforços podem ser parte de uma campanha para limpar as rotas marítimas para permitir que os navios ucranianos deixem Odesa e abracem a costa”.

Plataforma de extração de gás no Mar Negro (Foto: pxhere.com)

Ao anexar a Crimeia em 2014, a Rússia assumiu o controle de campos de gás natural e instalou ao menos três sistemas de radar em plataformas no Mar Negro, segundo dados de especialistas em energia e do exército da Ucrânia. Dependendo do posicionamento das plataformas móveis de perfuração, é possível usar os radares para monitorar quase toda a navegação do Mar Negro.

Nesse sentido, outro indício que fortalece a ideia de uma estratégia ligada à exportação é a posição da plataforma atingida: estava a apenas 70 quilômetros do porto de Odesa, onde a produção ucraniana está retida pelos russos. Embora ela não esteja na listagem daquelas que receberam radares inicialmente, novos equipamentos têm sido instalados nos últimos anos.

Por outro lado, a teoria de cortar o fornecimento de gás cai por terra porque a estrutura submarina dificilmente seria afetada por um ataque de míssil. Assim, o envio do combustível pelos dutos continuaria operante. E, mesmo que esse sistema viesse a ser comprometido, Moscou tem alternativas para suprir a necessidade da Crimeia.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, quase mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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