Cartilha do Kremlin orienta como atletas olímpicos devem responder a questões ‘provocativas’

O documento servirá para orientar os competidores sobre como responder questionamentos da imprensa sobre temas políticos e sociais

Os atletas russos que buscarão o ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio receberam instruções para que não opinem sobre temas políticos durante o evento. Eles foram orientados a não falar, por exemplo, do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), de escândalos de doping desportivo no país e da anexação da Península da Crimeia, segundo informações do jornal russo Vedomosti.

O Comitê Olímpico Russo distribuiu uma cartilha para orientar os atletas sobre como responder questionamentos da imprensa tidos como “provocativos” sobre questões políticas e sociais. O país confirmou sua delegação com 335 atletas, que irão competir sob bandeira neutra, punição imposta pela Wada (Agência Mundial Antidoping) e depois mantida pela CAS (Corte Arbitral do Esporte) após investigação sobre casos de doping.

O presidente Vladimir Putin junto de atletas participantes dos Jogos de Inverno de 2018 (Foto: Wikipedia Commons/Divulgação)

Na Rússia, as críticas ao Kremlin ou ao presidente Vladimir Putin estão cada vez mais sob vigilância do Estado. No esporte, em particular, os competidores russos têm enraizado o sentimento de que representam a nação e sabem que assumir um posicionamento político pode render críticas severas ou mesmo punição.

Em questões como o “Vidas Negras Importam”, por exemplo, a orientação é para que respondam protocolarmente “são um assunto pessoal do indivíduo” e “os Jogos não devem se tornar uma plataforma para quaisquer ações e gestos”, diz o relatório Vedomosti.

O assédio sexual é outra tema para o qual os atletas russos estarão preparados, em caso de perguntas. E a cartilha ensina exatamente o que deve ser dito: “Nunca encontrei isso em minha carreira, mas sei que esse problema existe em muitos países”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou as diretrizes e acrescentou que “cabe a cada atleta individualmente decidir se a deve ou não utilizar”, declarou, para então acrescentar: “Os atletas não são políticos”

Para os atletas russos medalhados, em vez do hino nacional, será tocado no pódio o “Concerto para Piano Nº 1” de Pyotr Tchaikovsky. Caso surjam questões sobre isso, claro, há uma resposta pronta. Os atletas são encorajados a dizer que representam sua pátria de qualquer maneira e que isso é uma grande honra, embora eles gostariam de ouvir o hino nacional da Rússia no pódio.

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