Boom da indústria de defesa da Rússia dá sinais de esgotamento em 2025

Após anos de crescimento impulsionado pela guerra na Ucrânia, setor militar russo enfrenta desaceleração, queda no ritmo de produção e limites impostos por sanções e pressão financeira

O boom da indústria de defesa da Rússia, impulsionado pela invasão da Ucrânia e pelo aumento recorde dos gastos militares, começa a dar sinais claros de desaceleração em 2025. Após dois anos de forte expansão, indicadores oficiais e análises independentes apontam limites estruturais e financeiros para a sustentação do atual modelo de crescimento baseado na economia de guerra. As informações são do The Moscow Times.

Os gastos militares russos quase quadruplicaram desde o período pré-guerra, saltando de 3,6 trilhões de rublos em 2021 para 13,5 trilhões previstos para 2025. Esse fluxo de recursos transformou o complexo militar-industrial em um dos principais motores da economia, atraindo centenas de milhares de trabalhadores com salários acima da média nacional.

Soldados ucranianos capturam um tanque T-90M Proryv na região de Kursk (Foto: WikiCommons)

Entre 2023 e 2024, estima-se que até 700 mil pessoas migraram para o setor de defesa, elevando o total de empregados para cerca de 3,8 milhões, o equivalente a 5% da força de trabalho do país. O fenômeno foi descrito por analistas como um “keynesianismo de defesa”, no qual o crescimento econômico depende diretamente da produção militar.

Desaceleração da produção industrial

Em 2025, no entanto, o ritmo começou a cair. O Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia projeta crescimento industrial de apenas 1%, bem abaixo dos 5,6% registrados no ano anterior. Setores diretamente ligados à guerra já mostram perda de fôlego.

A produção de bens metálicos usados em artilharia e munições cresceu 15,9% entre janeiro e outubro de 2025, praticamente metade do avanço registrado em 2024. Equipamentos eletrônicos e ópticos com uso militar também desaceleraram, passando de 27,9% para 13,6% de crescimento no mesmo intervalo.

A exceção parcial foi o segmento de “outros equipamentos de transporte”, que inclui tanques e drones, mas mesmo ali o avanço permaneceu praticamente estável, sem novos saltos relevantes.

Sanções e gargalos estruturais

Outro fator que pressiona a indústria militar russa é a queda nas importações de bens de dupla utilização, essenciais para a produção de armamentos mais sofisticados. As compras desses itens da China, principal fornecedora externa, recuaram tanto em relação a 2024 quanto a 2023.

Além disso, problemas estruturais persistem. Empresas enfrentam atrasos nos pagamentos estatais, baixos adiantamentos contratuais e dificuldades de fluxo de caixa, agravadas pelas altas taxas de juros. Casos de nacionalização, processos criminais e demissões em estaleiros e fábricas de eletrônicos reforçam o cenário de tensão no setor.

Limites do modelo de economia de guerra

Apesar das dificuldades, especialistas avaliam que Moscou ainda consegue manter a produção de equipamentos militares básicos, como drones, tanques e munições. O principal desafio está na fabricação de sistemas avançados, que dependem de microeletrônica e componentes sensíveis às sanções ocidentais.

A tendência, segundo analistas, é de um desgaste progressivo do modelo econômico centrado na guerra. O boom da indústria de defesa não colapsou, mas já não entrega o mesmo impulso de crescimento observado nos primeiros anos do conflito, levantando dúvidas sobre sua sustentabilidade no médio prazo.

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