Conforme Trump busca um fim rápido para a guerra, Putin aposta na paciência para vencer na Ucrânia

EUA e Rússia retomam diálogo após três anos, mas Moscou aposta no desgaste ocidental para manter sua posição

Após quase três anos, o fim da guerra na Ucrânia desponta no horizonte. Enquanto Donald Trump pressiona por um acordo rápido que encerre o conflito, Vladimir Putin aposta na paciência e na exaustão do Ocidente para sair vitorioso, seja no campo de batalhas ou na mesa de negociações. As conversas entre autoridades dos dois países em Riad, na terça-feira (18), marcaram o primeiro encontro direto entre representantes de Washington e Moscou em três anos, um avanço diplomático que pode redesenhar o mapa geopolítico da Europa. As informações são da revista The Economist.

A aproximação entre os dois líderes ocorre em um momento delicado para Moscou. Apesar da propaganda do Kremlin, a realidade militar e econômica da Rússia é preocupante. A guerra de atrito tem drenado estoques militares, com mais da metade dos 7,3 mil tanques soviéticos armazenados destruídos e uma reposição lenta. No campo econômico, a resistência russa às sanções tem sido sustentada por altos preços de commodities, mas a inflação em dois dígitos e a taxa de juros de 21% ameaçam a estabilidade interna.

A perspectiva de negociações formais com os EUA é vista por Moscou como parte de um jogo maior. Para Trump, a diplomacia é um meio de fechar um acordo rápido e político; para Putin, é uma estratégia de desgaste. Com a possibilidade de um cessar-fogo, o líder russo pode conseguir espaço para consolidar ganhos territoriais, enquanto a pressão econômica no Ocidente pode desestimular o apoio a Kiev.

Encontro entre representantes das diplomacias de EUA e Rússia na Arábia Saudita, fevereiro de 2025 (Foto: Departamento de Estado dos EUA/divulgação)

Trump continua a sustentar sua narrativa de que a Ucrânia tem responsabilidade pelo conflito. “Vocês nunca deveriam ter começado isso”, disse ele em um discurso na Flórida, conforme seus representantes diplomáticos sentavam-se à mesa com os homólogos russos. A afirmação ignora o fato de que a invasão russa de 2022 foi unilateral e viola tratados internacionais.

A guerra também se tornou uma batalha de resistência para a Ucrânia. Mesmo com perdas significativas, o país segue determinado a defender sua soberania. O enfraquecimento militar russo é um fator que pode dificultar as ambições de Putin, mas a sobrevivência ucraniana depende do suporte ocidental, que Trump pode reduzir.

A economia russa também enfrenta um dilema. Sanções e quedas nos preços das exportações minam as receitas de Moscou. Um relatório do Banco Central russo, vazado à imprensa, alerta que uma recessão pode ocorrer antes que a inflação desacelere. O governo de Putin terá que escolher entre manter os gastos militares ou conter o avanço da crise econômica.

No interior da Rússia, há divisão entre os chamados “beneficiários da paz”, que buscam o fim do conflito para estabilizar o país, e os “beneficiários da guerra”, que lucram com sanções e a economia de guerra, investindo em negociações lucrativas no mercado paralelo que conseguem driblar os vetos ocidentais. Putin precisa equilibrar essas forças internas enquanto navega a pressão externa.

Mesmo se a guerra esfriar, os objetivos do Kremlin vão além da Ucrânia. Putin pretende minar a segurança europeia e consolidar sua influência. Como afirmou em 2024, “o sistema de segurança euro-atlântico está desmoronando diante de nossos olhos”.

A estratégia de Putin passa por fortalecer alianças e explorar divisões no Ocidente. Seu governo aposta que partidos pró-Rússia ganharão força na Europa, especialmente com a ascensão de movimentos nacionalistas.

A maior preocupação do líder russo, no entanto, é sua própria sobrevivência política. Uma saída desastrosa da guerra poderia gerar instabilidade interna e abrir espaço para desafios ao seu poder. Por isso, Putin buscará um acordo que garanta não apenas ganhos geopolíticos, mas também a manutenção de seu regime.

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